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A Bruxa

A Bruxa

Matheus Fiore - 14 de março de 2016

Em um tempo em que filmes de terror se resumem à sustos e sangue, A Bruxa faz exatamente o contrário, evita tais clichês da atualidade e da ao gênero – que respira por aparelhos – mais um dia de vida. Ao buscar referências em clássicos como O Exorcista e O Iluminado,  e até no recente e injustiçado A Vila, o diretor e roteirista Robert Eggers apresenta o terror clássico para uma nova geração de forma elegante, honesta e competente.

Situado no século XVII, o filme conta a história de uma família que, ao ser expulsa da colônia onde morava, se muda para um pequeno terreno cercado por uma assustadora floresta negra. A história acompanha Thomasin (Anya  Taylor-Joy), e mostra ela e sua família tentando se adaptar à nova vida. Mas não tarda para que o medo se instaure com o desaparecimento do bebê Samuel seguido de uma sequencia de estranhos acontecimentos. Até na apresentação da ameaça o roteiro se difere das histórias de terror atuais, logo nos primeiros dez minutos já conhecemos a bruxa e temos a cena mais assustadora do longa.

A direção é muito feliz em criar apreensão, pois em quase todas as  cenas amedrontadoras ela foca em primeiríssimos ou primeiros planos no rosto dos personagens com uma profundidade de campo pequena, para evita mostrar o que está acontecendo ao redor. O filme assusta muito mais pela sugestão do que pela violência, e abre espaço para a imaginação de quem assiste preencher as lacunas. A bruxa e suas ações só são exibidas quando realmente há necessidade narrativa. A opção por planos mais longos ao invés de construir cenas com vários mais curtos ajuda na imersão, e deixa o espectador mais conectado à tela. Em muitos momentos (principalmente dentro da casa) vemos uma grande parte da tela totalmente coberta por sombras, fazendo referência ao mal que envolve a família e o lugar.

Todo o elenco está muito bem e o roteiro ajuda a dar personalidade e vida a todos os personagens. Thomasin e seu pai, William, são os que ganham maior destaque. Ela é o centro de quase todos os conflitos do filme,  funciona como um elo entre o espectador e a história. E William sempre tenta manter a sanidade e amenizar os conflitos na família. Enquanto todos surtam, ele, mesmo sendo o maior apegado à religião, é o que tenta manter os pés no chão.

Igualmente boa é a fotografia do filme. Os takes que captam a casa da família pouco a frente da floresta são bem enquadrados e mostram o quão pequenos são os personagens perto do que os assombra na mata. Mesmo nas poucas cenas de violência, o filme se mantém frio e sem cores fortes.

A história ainda possui camadas menores que tratam sutilmente de outros temas, como empoderamento feminino e o fundamentalismo religioso extremo que dominava a sociedade ocidental naquele século. Todos os temas, mesmo quando abordados por subtramas dos coadjuvantes, são bem inseridos e enriquecem o filme.

A conclusão do filme é curiosa. Possivelmente, se tivesse terminado 40 segundos antes, o filme teria um final mais impactante. E se tivesse terminado cinco minutos antes, quando entre uma cena e outra é exibida uma tela preta de longos três segundos, teria um final bem mais controverso e aberto a interpretações.

A Bruxa não deve agradar aos fãs de filmes de susto como Atividade Paranormal, muito menos aqueles que procuram por violência gráfica, pois o filme foca muito mais no terror psicológico. Mas aos fãs de filmes como O Iluminado, que criam o cenário perfeito para execução impecável de um filme apreensivo, tenso e bem estruturado, deverá ser uma experiência memorável. Resta saber se o vai sobreviver às expectativas criadas pelos elogios da crítica, e se será bem recebido pelo espectador médio, mal acostumado com filmes mastigados e de linguagem burocrática.

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