“Fita 6, Lado A” é precedido por “Fita 5, Lado B”. Para ler a crítica do décimo episódio, clique aqui.

A verdade é transformadora. Panta rei, como dizia Heráclito. “Tudo flui”. Quando a verdade vem à tona, é impossível voltar ao estado anterior. O único caminho é para frente, fora da zona de conforto e a caminho do desconhecido. Não à toa, muitos evitam a verdade a todo o custo.

Em “Fita 6, Lado A”, Clay finalmente ouve sua fita. Aquele que esteve até aqui na posição de julgador sente na pele o que é estar do outro lado do balcão. E sua dificuldade em ouvir, fazendo repetidas pausas, serve para o episódio desenvolver o outro conflito que envolve um choque de realidade: Justin, Jessica e Bryce.

Uma tese insinuada durante a temporada e finalmente desenvolvida neste episódio é o da verdade ser um conceito relativo. Cada um tem a sua e duas versões não são necessariamente excludentes. Nesse aspecto, a perspectiva de Skye sobre o suicídio, que poderia ser sarcástica ou simplesmente cruel, é apenas subjetiva. Essa é uma personagem que cresce organicamente ao longo dos episódios e tem seu arco bem resolvido. Como assistimos à série com as informações de Clay, a proximidade do fim da sua jornada começa a amarrar pontas e mostrar um trabalho sólido, principalmente no roteiro.

Justin, que usa o grupo no qual é influente para se anestesiar da vida conturbada dentro de casa, perde esse local seguro – lembre como Hannah também perdeu seus lugares seguros ao longo da vida – e precisa confrontar o namorado da mãe, mas não consegue. E é exatamente este o momento em que ele percebe a superficialidade das relações que tem com seus supostos amigos. Alex, que até então era o único do grupo com indícios de verdadeiro arrependimento, acaba sendo também o único a lhe prestar solidariedade.

Finalmente impossibilitada de negar que foi vítima de um estupro, Jessica passa a compartilhar algo em comum com Hannah e todas as mulheres vítimas de abusos: a vulnerabilidade. Se uma não conseguiu se conectar ao homem que amava porque via nele todos os outros que já abusaram dela, a outra simplesmente desmonta – o termo é adequado – com uma mensagem do estuprador. É isso que a violência causa, a destruição da vida da vítima.

Mais uma vez, os personagens afastados no quadro, passando a ideia de que a comunicação entre eles não está funcionando

A linha entre a ajuda e a invasão é tênue. Não existe uma fórmula para descobrir quando um “vá embora” deve ser interpretado literalmente. A frase “eu matei Hannah Baker”, apesar de definitiva, pode não conter toda a verdade. Mas cada um tem a sua verdade e o tempo de vida que lhe resta para viver com ela.

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