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Better Call Saul 3×09 – Queda

Better Call Saul 3×09 – Queda

Matheus Fiore - 13 de junho de 2017
O episódio de Better Call Saul 3×09 – Queda é precedido por 3×08 – Escorregada. Para ler a análise do anterior, clique aqui.

Se em Breaking Bad passamos a perder a empatia por Walter White quando ele se corrompeu moralmente e se tornou definitivamente Heisenberg, é seguro dizer que Jimmy McGill esteja trilhando o mesmo caminho enquanto se torna Saul Goodman. Mais do que um spin-off do grande sucesso da AMC, Better Call Saul, então, se firma como um novo estudo de personagem sobre a degradação humana diante de situações de extrema pressão ou desespero.

Se seguirmos a ideia que propus no texto do episódio anterior de que Jimmy passa o capítulo no chão, “morto”, para que Saul ressurja, então o plano que abre Queda é extremamente simbólico. Com uma câmera travada no chão, que se arrasta pelo asfalto, somos guiados até o carro de Jimmy, que faz a câmera se levantar até que, poucos quadros depois, estamos vendo o personagem já agindo como Saul Goodman, quando utiliza sua malandragem para papear Irene, uma das idosas vítimas do caso Sandpiper. O uso de tais ângulos, então, sugere o fechamento de um ciclo. Jimmy está definitivamente “enterrado” enquanto Saul já ascende dominante.

Nos episódios mais recentes, começamos a ver o ressurgimento de Saul enquanto Jimmy se via encurralado por suas limitações profissionais e financeiras. Aqui, vemos o personagem recorrer às mais sujas estratégias para conseguir algum dinheiro, dando continuidade ao processo de destruição de seu próprio caráter enquanto Saul Goodman é cada vez mais dominante. Apesar de não trazer grandes inovações visuais, todo o planejamento de Saul para enganar as idosas do caso Sandpiper são importantes para evidenciar a inteligência e sagacidade do protagonista, que acaba utilizando suas habilidades apenas para trapacear outras pessoas.

Voltando à trama de Mike, o personagem tem seu primeiro encontro com Lidia, a personagem que em Breaking Bad era responsável por ajudar Gustavo Fring na distribuição de metanfetamina. É um curioso e engraçado easter egg que o quadro pendurado na parede de seu escritório traga justamente a cor azul sendo espalhada pelo globo, não acham?

Já no plot de Kim Wexler, vemos a personagem tentando administrar dois grandes casos e, apesar de demonstrar êxito profissionalmente, encontrar no caminho sua ruína psicológica. Após um momento de desatenção que quase culmina em um acidente de carro, noites mal dormidas somam ao dia-a-dia da advogada e resultam no grave acidente que conclui o episódio. Num simples corte, a série pula de um plano de Kim dirigindo para outro da personagem já acidentada. O público, graças à montagem, fica desnorteado, como a própria Kim, até entender o que aconteceu.

Mas, voltando ao principal, Saul, vemos que seu plano para convencer Irene a aceitar o trato proposto no caso Sandpiper e receber uma quantia fechada até dá certo, mas acaba isolando sua vítima, a senhora Irene, de todos ao seu redor. O curioso é que isso cria uma relação antagônica entre Saul e sua parceira, Kim. Enquanto o protagonista manipula, engana e trapaceia para ganhar seu dinheiro, Kim se desgasta física e emocionalmente para administrar dois grandes clientes. O que podemos supor é que tal diferença de princípios passará a prejudicar a relação da dupla.

Há ainda espaço para outro pequeno easter egg. Na cena em que Saul vai ao shopping caminhar e fazer seu “networking” com Irene, vemos ele passar por uma loja que se chama… Crazy-8. Justamente o nome do traficante que cruza o caminho de Walter White na primeira temporada de Breaking Bad (com a sutil diferença do K no lugar do C, formando Krazy-8).

E as referências vão além, já que o personagem caminha no exato mesmo ambiente no qual aparece no primeiro episódio da temporada, sob uma fotografia em preto e branco, sentado cabisbaixo comendo um sanduíche. Aqui, porém, só podemos destacar o uso do mesmo ambiente e aguardar os futuros rumos da série, já que não sabemos o contexto do “flashforward” em preto e branco para fazer qualquer comparação com o encontro de Saul e Irene.

Better Call Saul continua evoluindo a passos lentos, mas sem decepcionar. Se na primeira metade da temporada a direção e a fotografia se destacavam, aqui vemos mais o impacto do texto na construção dos arcos dos personagens. Se toda ação traz uma reação (Nacho se alia ao tráfico e acaba vendo-o atingir sua esfera familiar, Kim não descansou o suficiente e acabou acidentando-se ao dormir no volante, e por aí vai), nos resta apenas ver que tipo de tragédia está aguardando Jimmy McGill para fazer o advogado, de uma vez por todas, se tornar Saul Goodman.

O episódio pode até passar uma sensação de ser apenas mais um que prepara terreno para grandes acontecimentos, mas a série já provou que merece nosso voto de confiança para fazer tal construção ser tão lenta.

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