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O Justiceiro 1×01 – Três da madrugada

O Justiceiro 1×01 – Três da madrugada

Gustavo Pereira - 17 de novembro de 2017

Esta crítica trata exclusivamente de “Três da madrugada”, primeiro episódio de O Justiceiro. A crítica da temporada completa está aqui.

Um primeiro episódio, no mínimo, tem a obrigação de apresentar personagens novos e situar o espectador no tempo e no espaço da série, além de dar o tom geral da produção. “Três da madrugada” faz isso sobriamente, sem muitos floreios. A essa altura, é de se imaginar que os fãs da Marvel já assistam às produções da Netflix sabendo o que encontrar. Não há maiores necessidades para apresentar Frank Castle (Jon Bernthal), co-protagonista da segunda temporada de Demolidor (leia a crítica aqui). O diretor Tom Shankland apenas dá mais algumas pinceladas no passado de Castle e estabelece o grande inimigo do Justiceiro: ele mesmo.

A ficção abordou, ao longo de sua história, a importância do propósito na vida de uma pessoa. Correntes filosóficas como o Existencialismo, o Absurdismo e o Niilismo gastaram milhares de páginas tentando delimitar o sentido – ou a falta dele – na vida. Frank perdeu sua família num evento traumático que lhe tirou não apenas os entes amados, mas qualquer resquício de fé neste tal “sentido”. Seu propósito inicial foi se vingar, um a um, de todos que lhe causaram esta lacuna. Mas o que acontece após a “missão” ser cumprida?

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Frank Castle é uma pessoa enclausurada em seu trauma. Essa “prisão” é representada fisicamente no apartamento minúsculo em que vive.

Castle se torna uma concha vazia, respirando, comendo, derrubando paredes e tendo um sonho recorrente. Seu sono é inquieto e sua incapacidade de se relacionar com qualquer um é gritante. Bernthal demora mais de dez minutos para ter uma fala em “Três da Madrugada”. Os closes em seu rosto mostram uma expressão sempre fechada, dura e sem expressões. Ele não vive, apenas existe.

“Três da Madrugada” também apresenta alguns dos novos personagens do Universo Cinematográfico da Marvel na Netflix: Dinah Madani (Amber Rose Revah) é a que se destaca com o maior potencial para crescer, exatamente pelo número de camadas presentes nela. Uma agente do Departamento de Segurança Nacional filha de imigrantes, investigando um caso que pode representar um crime internacional do exército americano, país que acolheu sua família. Este episódio de O Justiceiro acena para debates sobre o machismo institucionalizado que cala mulheres competentes e o patriotismo cego que oculta embustes.

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Dinah sai de um ambiente ensolarado (quente) para um dominado pelo azul (frio), tem seu avanço parado por um oficial e encara o Departamento de Segurança Nacional em um plano contra-plongée, tornando o prédio maior e mais opressivo: pistas visuais sobre a personagem.

A forma como a série usa obras da Literatura para dar indícios sobre o estado de espírito de Frank também merece nota: após ler Moby Dick, Castle vai para The Crack-Up. Tanto no romance de Herman Melville quanto na coletânea de ensaios de F. Scott Fitzgerald, a obsessão e o conflito entre ideias antagônicas marcam os protagonistas, orientando suas vidas para um caminho inevitável. O mesmo acontece com Castle, que toma uma decisão enquanto lê um livro com citações como “toda vida é um processo de degradação” e “o grande teste de inteligência é ser capaz de manter duas ideias opostas na cabeça ao mesmo tempo e manter-se são”.

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Como o Capitão Ahab, Frank não consegue seguir em frente e deixar seu trauma no passado.

“Três da Madrugada” é um começo alinhado com o que é o Justiceiro: soturno e violento. Provavelmente, agradará aos fãs do personagem. Para quem estiver em dúvida sobre dar ou não uma chance para os 13 episódios, talvez interesse saber que este tem uma matança ao som de Tom Waits.

Assista a “Três da Madrugada” e à temporada completa de O Justiceiro clicando aqui.

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