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Os esnobados do Oscar 2017

Os esnobados do Oscar 2017

Matheus Fiore - 16 de fevereiro de 2017

Todo ano o Oscar comete suas injustiças. Não é necessário explicar muito, só lembrar de como a Academia tratou os filmes do gênio Stanley Kubrick, por exemplo. Este artigo, porém, não tratará somente de filmes injustiçados no ano de 2017, mas também de obras que, mesmo com uma qualidade inferior à média dos indicados, estavam cotadas para disputar os principais prêmios.

Claro que a lista abaixo considerará apenas filmes dentro do padrão hollywoodiano. Obras que estavam cotadas por um conjunto de temática, marketing, qualidade e impacto. Bons filmes como A Juventude ou A Bruxa certamente não teriam vaga numa premiação de escopo tão limitado como é o caso.

Imagem de Capitão Fantástico com o protagonista de Viggo Mortensen a frente de sua famíliaCapitão Fantástico

Sendo um dos filmes mais elogiados de 2016 (principalmente por seu elenco de apoio e direção), Capitão Fantástico acabou só recebendo uma indicação na categoria Melhor Ator, com Viggo Mortensen. O filme pode não ser perfeito, mas sem dúvidas possui muitas qualidades que o colocam acima de obras extremamente irregulares como Estrelas Além do Tempo Até o Último Homem. Além da indicação de Viggo, o filme poderia muito bem também ter sido indicado por sua direção, e até na categoria Melhor Filme.

Além de sua qualidade, Capitão Fantástico era bem cotado por sua forte presença em Sundance e em Cannes, dois dos principais festivais de cinema do planeta.

Nossa crítica de Capitão Fantástico pode ser lida aqui.


Imagem de Café Society, filme de Woody Allen com Jesse Eisenberg e Kristen StewartCafé Society

Sem dúvidas não está entre os grandes trabalhos de Woody Allen, mas sabemos muito bem que isso nunca foi muito relevante para indicarem alguma obra do renomado cineasta ao Oscar. Café Society tem muitos dos elementos que chamam atenção da academia, como a trama que a todo momento homenageia a história de Hollywood e o amor impossível entre dois jovens jovens sonhadores de Los Angeles.

O azar da obra de Allen é que no mesmo ano tivemos outro filme, muito superior, que trouxe os mesmíssimos elementos em uma narrativa bem mais criativa e apaixonante. No caso, La La Land. Aqui, a esnobada é merecida. Talvez, a obra merecesse uma indicação por sua fotografia.

Nossa crítica de Café Society pode ser lida aqui.


Imagem de Silencio, filme de Martin ScorseseSilencio

Há de se destacar que o filme teve uma recepção bem morna. Porém, assim como Allen, Scorsese é figurinha carimbada do Oscar. Se um filme Martin dirigiu, por ele será indicado. Isso parece ter mudado já que seu novo e ambicioso filme, Silencio, foi esnobado em praticamente todas as categorias, sendo lembrado apenas por sua fotografia. Como a obra não estreou no Brasil antes da lista de indicados, é impossível avaliarmos se a esnobada é merecida ou não.


Imagem de O Nascimento de Uma Nação com a rebelião dos escravos lideradas pelo personagem de Nate ParkerO Nascimento de Uma Nação

Um dos casos mais polêmicos da temporada. Desde seu anuncio, o longa que tentou dar novo significado ao infame e racista de filme 1915 criou grandes expectativas. A obra comandada por Nate Parker, que dirige, escreve e protagoniza o filme, perdeu fôlego pouco antes da temporada de prêmios depois da veiculação de notícias sobre um estupro cometido por Parker em seu passado. Muitos questionam a influência do estupro na reputação de O Nascimento de Uma Nação, argumentando que Casey Affleck, protagonista do indicado Manchester à Beira-Mar, também tem um caso de abuso sexual em seu histórico.

O fato é que, apesar de ser uma obra com muitos defeitos, ainda é superior a indicados como Estrelas Além do TempoAté o Último Homem. A esnobada seria merecida se outros filmes tão pobres não estivessem entrado na seleção de Melhor Filme.

Nossa crítica de O Nascimento de Uma Nação pode ser lida aqui.


Imagem de Animais Noturnos que traz uma pensativa Amy Adams encarando seu computador

Animais Noturnos

O elogiado filme de Tom Ford foi um dos que marcaram presença no Globo de Ouro, com três indicações e um prêmio (melhor ator coadjuvante, com Aaron Taylor-Johnson). Especulava-se que seria um dos indicados ao Oscar de Melhor Filme, podendo também concorrer nas categorias Melhor Atriz, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante. Foi, porém, ignorado em quase todas as categorias cotadas, conseguindo apenas a indicação de Michael Shannon como coadjuvante.

Nossa crítica de Animais Noturnos  pode ser lida aqui.


Imagem do filme Loving com o casal interpretado por Ruth Negga e Joel EdgertonLoving

Pode não ser o mais badalado, mas Loving é, muito provavelmente, o maior injustiçado da temporada. O drama real sobre o casal composto por um caucasiano e uma negra que, graças a absurda lei anti-miscigenação que estava em vigor em parte do território americano até os anos 50, foi obrigado a mudar de estado sob pena de prisão. O filme acompanha a luta do casal por igualdade perante a lei e para poder retornar ao seu estado natal.

Tendo apenas uma indicação (a colossal atuação de Ruth Negga entrou em Melhor Atriz), o filme merecia, no mínimo, indicações nas categorias Melhor Ator, Melhor Direção e Melhor Fotografia. Joel Edgerton se transformou física e psicologicamente para interpretar Richard Loving, estando muito acima de boa parte das outras atuações de protagonistas masculinos. A direção e a fotografia da obra também mereciam no mínimo uma indicação, pois o cuidado na construção narrativa através de cores e movimentos de câmera são de altíssimo nível técnico.

Uma obra que desde sua primeira exibição em Cannes, foi muito elogiada e já vinha como forte candidata ao Oscar, mas que no meio do caminho passou a ser solenemente ignorada e perdeu espaço para obras muito inferiores, como Estrelas Além do Tempo, Até o Último Homem, Lion Fences.

Nossa crítica de Loving pode ser lida aqui. 


Tom Hanks em Sully: O Herói do Rio HudsonSully: O Herói do Rio Hudson

Outro filme que teve recepção morna nos Estados Unidos. Junta, porém, um dos diretores vivos mais queridos da Academia, Clint Eastwood, e um dos atores mais queridos de todos os tempos, Tom Hanks, em uma trama sobre a heróica história do piloto que salvou seu vôo conseguindo pousar um avião no Rio Hudson após uma pane na aeronave.

Tanto Hanks quanto Eastwood foram ignorados, e o filme só conseguiu uma indicação de consolação na categoria Melhor Edição de Som.


George Clooney em Ave, César!Ave, César!

Uma das decepções da temporada poderia ter encontrado sobrevida se tivesse sido lembrada pela Academia. Ave, César! foi, porém, esnobado no Oscar. Talvez seja a obra com mais elementos que costumam atrair os votantes. Um filme que mistura musical com homenagens a Hollywood, dirigido e escrito pelos irmãos Coen, já consagrados por Fargo Onde Os Fracos Não Têm Vez. No elenco, só nomes de peso como Josh Brolin, George Clooney, Ralph Fiennes e Tilda Swinton, tendo também artistas em alta como Channing Tatum, Scarlett Johanson e Jonah Hill.

No fim das contas, além do fracasso de crítica, Ave, César! conseguiu apenas uma indicação por sua direção de arte.

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