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Better Call Saul 4×01 – Fumaça

Better Call Saul 4×01 – Fumaça

Matheus Fiore - 7 de agosto de 2018

Pouco mais de um ano após o trágico fim da terceira temporada, Better Call Saul está de volta. Como é de se esperar da obra de Vince Gillan e Peter Gould, não temos um episódio inicial agitado ou extremamente revelador. Na verdade, é o contrário. Como se tornou típico da série nos três anos anteriores, o quarto ano começa contextualizando a trama e reconectando o público aos personagens.

Better Call Saul está em uma nítida transição. Todos os núcleos do quarto ano se caracterizaram, no primeiro capítulo, por uma marcante mudança nas rotinas. Enquanto Jimmy, Kim e Howard lidam com a morte de Chuck McGill, por exemplo, Gustavo Fring e Nacho Varga já recebem novas orientações para dar continuidade ao negócio de Hector Salamanca enquanto este está hospitalizado.

Nacho, aliás, protagoniza um dos mais interessantes momentos do episódio, quando encara um rio numa noite escura. A cena, que é concluída com a confirmação de que o personagem está sendo seguido, exprime toda a tensão que permeia a vida do personagem desde que ele decidiu armar para matar Salamanca. 

Visualmente, é interessante notar como Fumaça trabalha algumas rimas visuais. Na abertura do episódio, quando acompanhamos cenas do ainda misterioso futuro de Jimmy/Saul/Gene, vemos uma mesma construção em três momentos diferentes. Isso cria não só uma coesão estética, mas também desenvolve uma idéia.

No caso, os três planos abaixo trazem pequenas brechas pelas quais podemos ver o que acontece na cena. Tal escolha funciona como uma brincadeira com as poucas informações que temos sobre o futuro do protagonista – vemos sua vida apenas por frestas –, e um dos momentos, especificamente, nos mostra o estado emocional de Jimmy (que, ali, se apresenta como Gene). O personagem sente-se acuado, pressionado, o que combina com a escuridão que o envolve na segunda imagem.

Diferente da adrenalina e da tensão que dominam a abertura, o restante do episódio segue o estado do núcleo de Jimmy: luto. O protagonista e sua namorada, Kim, passam o capítulo inteiro de forma reflexica, silenciosa, absorvendo a perda e pensando no futuro. Diferente deles, Howard aparece mais impactado, tagarelando como nunca – o que deixa o sentimento de culpa pelo suicídio de seu antigo parceiro bem nítido, já que no derradeiro capítulo do terceiro ano, Howard e Chuck tiveram uma briga.

Não poderia passar despercebido, também, o forte simbolismo que há no encontro de Jimmy com a casa de seu irmão totalmente queimada. A casa, que também já foi lar do protagonista, simbolizava, junto a figura de Chuck, o último alicerce da vida passada de Jimmy. Podemos esperar, agora, que o protagonista se torne Saul Goodman de forma definitiva, já que a principal amarra afetiva que tinha, seu irmão mais velho e seu antigo lar, foram levados pelas chamas.

Tão interessante quanto aguardar a transformação de Jimmy em Saul, é pensar o quanto Gene, o personagem ainda pouco explorado que passou a existir após os eventos de Breaking Bad, tem de semelhante a Jimmy. É uma figura muito mais exposta, fragilizada e comum, bem diferente do extravagante advogado de Walter White.

Better Call Saul retorna com um clima pesado e melancólico. Seus personagens estão em cenários delicados, caminhando sobre o gelo fino e à beira do fracasso. Resta a nós ver como cada um lidará com suas tragédias. Chuck se foi e Jimmy se transformará, mas o que será de Kim, Howard e Nacho? No destino deste trio de coadjuvantes reside a promessa de maiores surpresas da série.

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