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13 Reasons Why 2×01 – A primeira foto Polaroid

13 Reasons Why 2×01 – A primeira foto Polaroid

Gustavo Pereira - 18 de maio de 2018

Texto exclusivo sobre “A primeira foto Polaroid”, primeiro episódio da segunda temporada de “13 Reasons Why”. A crítica da segunda temporada está aqui. Este texto contém spoilers da primeira temporada.

13 reasons why temporada 2 netflix

A dor de Olivia, justificável, é trabalhada de forma tão vaga, que parece tola

Possivelmente por ser acusada de “inspirar” dois suicídios, a Netflix decidiu – acertadamente – colocar um aviso na abertura do primeiro episódio de “13 Reasons Why”: se você está passando por uma crise, não veja a série e procure ajuda (o link, já direcionado para o CVV – Centro de Valorização da Vida, está aqui). Ninguém discute a importância do tema levantado pela série de Brian Yorkey inspirada no livro de Jay Asher. Mas a forma deixa a desejar. As ferramentas de linguagem usadas para trabalhar o tema dentro da série, principalmente neste episódio, além de criarem uma narrativa arrastada, se sustentam em mistérios tão gratuitos quanto desinteressantes.

Havia algo interessante na forma como “13 Reasons Why” apresentava seus personagens na primeira temporada: a cada lado de fita que Clay (Dylan Minnette) ouvia, uma história era contada. Havia tempo para entendermos como cada “porquê” interagia com Hannah Baker (Katherine Langford) e um mínimo de profundidade era dado. Em “A primeira foto Polaroid”, ao contrário, a urgência para trazer todos de volta o mais rápido possível cria um “efeito Vingadores”: um personagem menciona outro, que aparece imediatamente na cena “por acaso”, ou há um corte e uma nova cena mostra onde este personagem está. Sendo este o primeiro episódio, a falta de contextualização sobre o que aconteceu com cada um entre uma temporada e outra esvazia qualquer construção feita anteriormente. Ao contrário, todos parecem igualmente genéricos.

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A fotografia de “13 Reasons Why” é absolutamente convencional, quase que toda estruturada em planos e contraplanos

O maior exemplo disso é Alex (Miles Heizer), que tenta cometer suicídio na primeira temporada e começa a segunda já recuperado. Isso anula o ato, pois não mostra ao público as consequências. Sendo o tema central da série o suicídio, tal escolha não apenas é fraca no que se refere a roteiro, mas temerária na mensagem que passa. Um adolescente deu um tiro na própria cabeça e não lhe aconteceu nada.

Outra escolha questionável é na montagem estrutural do episódio: Olivia (Kate Walsh), mãe de Hannah, decide levar a escola Liberty a julgamento por negligência no caso do suicídio da filha. Tyler (Devin Druid) é o primeiro a depor e seu testemunho narra todo o episódio. Como existem acontecimentos paralelos anteriores e posteriores a esse testemunho, a montagem acaba criando uma confusão temporal. Também há uma metalinguagem despropositada, com o testemunho de Tyler, em off, ilustrando o próprio testemunho de Tyler. Em vez de criar pontes temáticas, a montagem confunde.

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A identidade visual dos créditos da série, com ilustrações infantis e trilha alegre, não faz sentido com o tema

O que também confunde é a disparidade de tons que a “13 Reasons Why” adota. Uma premissa pesada, que demanda de um mínimo de carga dramática, alterna um drama adolescente estilo “Barrados no Baile” (reforçado pelos figurinos e músicas ser-depressivo-é-legal, como as do New Order) com uma dinâmica entre Clay e Hannah (!) com clara intenção de ser perturbadora, mas que beira o cômico. Mais de uma vez, a série parece ter o interesse de colocar o foco da trama no “mistério incompleto” sobre a morte da jovem e menos no mundo que criou esta morte. Existem personagens com potencial para algo grande: uma vítima de estupro, um estuprador e um suicida. Mas “13 Reasons” foca na culpa sentida por um garoto que, analisando friamente, não é culpado de nada.

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Ponto positivo digno de nota: a defesa da Escola Liberty no tribunal é verossímil. A estratégia da advogada, tirando um evento de contesto para questionar a “moral” de Hannah, indiretamente responsabilizando-a pela violência que sofreu, é tão baixa quanto corriqueira.

“A primeira foto Polaroid” é um episódio regular, que testa os limites de elasticidade de uma história: podemos analisar um evento por quantos ângulos diferentes? Responda assistindo a “13 Reasons Why” neste link.

Leia mais sobre “13 Reasons Why” aqui.

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