Você pode ou não gostar dele, mas não pode negar que Zlatan Ibrahimović alcançou o sucesso. Campeão nacional por todos os clubes que defendeu (isso mesmo) e recordista mundial em movimentações financeiras (suas idas e vindas pela Europa valeram um total de 170 milhões de euros), o maior artilheiro da história do Paris Saint-Germain finalmente chega à Premier League. O Campeonato Inglês, considerado o principal torneio nacional de clubes do mundo, não é o único desafio para o atacante de 35 anos. Ele quer a Liga dos Campeões da Europa, a única conquista que lhe escapou até hoje. Ibra entra nessa empreitada sendo o décimo jogador mais bem pago do planeta, com um contracheque anual de 15,5 milhões de euros no Manchester United. Tão competente quanto polêmico, o sueco nem se aposentou e já está na história como o último grande “camisa 9”. Falastrão e goleador.

Mas como Ibra alcançou o status de ídolo? Em busca da resposta, os suecos Fredrik e Magnus Gertten produziram Becoming Zlatan, este documentário interessante e criativo com algumas soluções fora do usual.

O filme começa com imagens de um jovem Zlatan viajando para Amsterdã, onde defenderá o Ajax na temporada 2001-2002. É sua primeira transferência e, de saída, é o jogador mais caro da história do tradicional clube holandês até então, 9 milhões de euros. Já aqui temos o Ibra que conhecemos: quando pede para ver o elenco do time, responde com um sorriso no rosto “valho mais do que todos eles juntos”.

Este documentário independente reúne uma quantidade formidável de imagens raras. Não foram poucas as vezes em que me perguntei por que alguém sempre estava filmando Ibrahimović, na época com 18, 20 anos. Mas sempre havia alguém filmando, e estas imagens juntas contam uma história que vai da estreia nos profissionais do sueco Malmö FC até a venda para a Juventus de Turim, em 2004.

Com uma montagem inteligente, o filme intercala a jornada de Ibra no Malmö e no Ajax, criando paralelos interessantes: sempre com a mesma postura autossuficiente, as realidades completamente distintas que o rodeavam na Suécia e na Holanda dão o tom de como a transição não foi sutil. De ídolo e semideus na terra natal, foi para um país desconhecido onde era apenas mais um, digno de receber vaias caso não provasse seu alto valor de mercado.

O que, de fato, ocorre. E isso, ao melhor estilo Ibra, o deixa estarrecido. “Estão me vaiando?”

Para entender melhor o período, concedem entrevistas pessoas que viveram a ascensão de Ibrahimović de perto: o técnico Leo Beenhakker, que convenceu o Ajax a comprá-lo; Jan van Halst, veterano com quem desenvolveu forte amizade; Marco Van Basten, que foi de ídolo para mentor, além de profissionais de imprensa, adversários e até sua namorada na época, Mia Olhage.

Esta é uma oportunidade única para entrar na cabeça de uma das maiores personalidades esportivas do nosso tempo. O garoto que não gostava de estudar e aprendeu idiomas para poder jogar bola, filho de pai bósnio e mãe croata que se identifica como “cigano”. Ao mesmo tempo rancoroso com a imprensa que o criticava e grandioso ao defender Mido, o atacante egípcio que disputava a titularidade com Ibra até ser expulso do Ajax por tentar matá-lo com uma tesoura no vestiário (isso realmente ocorreu). Como bem disse Luciano Moggi, diretor esportivo da Juventus em 2004: “provavelmente, seria um ladrão de bicicletas se não fosse jogador”.

Mas o destino não seria tão cruel com Zlatan, o melhor jogador que fala de si na terceira pessoa que você respeita. Para amantes do futebol, do esporte em geral ou meros curiosos, Becoming Zlatan é um ótimo acréscimo ao catálogo da Netflix. Assista clicando aqui.