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Better Call Saul 3×07 – Despesas

Better Call Saul 3×07 – Despesas

Matheus Fiore - 23 de maio de 2017
O episódio de Better Call Saul 3×07 – Despesas é precedido por 3×06 – Revolução de Branding e sucedido por 3×08 – Escorregada. Para ler a análise do anterior, clique aqui. Para ler a análise do seguinte, aqui.

Faltando apenas três episódios para o fim dessa temporada, Better Call Saul vem se dedicando a debruçar-se sobre a situação de seu protagonista. Já sob o nome Saul Goodman, Jimmy McGill agora está impedido de advogar por 12 meses. A alternativa é, utilizando seu pseudônimo, filmar e comercializar propaganda para os pequenos comércios que lhe dão uma oportunidade.

Em ao menos quatro momentos, Jimmy é exposto em situações onde “rema contra a maré”. Momentos em que o protagonista tenta vencer um sistema ou convencer um potencial cliente a fechar negócio quando, nitidamente, ele não tem como vencer. Sempre são situações onde Jimmy está encurralado, sem perspectiva alguma de sair com algum saldo positivo. Mas Despesas vai além, e mostra também como McGill reage e se adapta às adversidades apresentadas.

No começo do capítulo, por exemplo, Jimmy está prestando serviço comunitário, parte de sua punição pela falsificação dos documentos de seu irmão, Chuck. Após reclamar que teve seu tempo de serviço contabilizado de forma incorreta (o personagem ficou 4 horas catando lixo e seu supervisor registrou apenas 30 minutos), o protagonista pede para seu supervisor reconsiderar o registro, tendo como resposta apenas “vou trocar meia hora por zero”. Aqui vemos o primeiro “não” de um episódio recheado de negações. Após fracassar, um corte seco que vai do rosto de Jimmy à vinheta da série é uma ferramenta para mostrar a dificuldade que perseguirá McGill.

Tais cenas de fracassos acompanham Jimmy em outros momentos. Sua tentativa frustrada de vencer um comercial para uma loja de instrumentos musicais, por exemplo, traz situação parecida. Sendo sempre o lado frágil dos embates, Jimmy tenta convencer o outro lado a seguir sua opinião, sem nunca ter sucesso. É importante não só a manutenção dos cortes secos nas conclusões de tais cenas, mas mostrar os olhares incertos das partes que McGill tenta convencer e a feição abatida do protagonista ao aceitar sua derrota. Aqui, já cansado de tantos fracassos, Jimmy é filmado distante, de cima, sentado na calçada desamparado. A boa escolha de planos do diretor Thomas Schnauz representa bem a situação.

Imagem de Better Call Saul que traz o protagonista pequeno, no centro da imagem, cabisbaixo

Outro momento simbólico é quando o carro de McGill não funciona. Na cena, os seus assistentes de gravação de comerciais o avisam que ele está afogando o carro e estragando o motor. A única reação de Jimmy é mandar os jovens pararem de falar e dizer que eles não entendem de carros. O excelente roteiro é mais uma vez sutil para mostrar como o protagonista da série encontra dificuldade em adequar-se à realidade, sempre tentando contornar situações incontornáveis.

Tecnicamente, o episódio difere um pouco de seus antecessores. A direção e a fotografia compõem bem as cenas, mas tirando o uso do zoom-in para mergulhar nos sentimentos do protagonista (como na cena onde ele e Kim planejam um roubo), os guias da narrativa são o roteiro e as atuações de Rhea Seehorn e Bob Odenkirk. O uso do corte para criar um tom cru que representa a situação sem saída de McGill também se destaca. Funciona também o uso da música, como na já mencionada cena do “planejamento do roubo”, quando a mudança da faixa na boate onde Kim e Jimmy estão acompanha uma mudança de visão da advogada.

Despesas não traz momentos marcantes como Sacanagem ou Testemunha, mas é um episódio eficiente para desenvolver o caminho sem volta que Jimmy passará a trilhar ao abandonar seu passado. O capítulo ainda encontra tempo para mostrar as frustrações pessoais de Mike e Kim. O primeiro tem sua sensibilidade mais desenvolvida, enquanto a segunda mostra-se culpada por ter apoiado Jimmy contra seu irmão. Quanto à Wexler, podemos apenas aguardar que sua culpa seja estopim para problemas maiores em sua relação com o protagonista. De resto, podemos enaltecer roteiro, edição e montagem, que trabalham juntos para construir o ambiente que, ao mesmo tempo, será a decadência de Jimmy McGill e a ascensão de Saul Goodman.

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