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O Fantasma de Sicília

O Fantasma de Sicília

Matheus Fiore - 26 de setembro de 2017

Luna e Giuseppe são dois pré-adolescentes de um pequeno vilarejo na Sicília. Ainda jovens, juntos descobrem a amizade e o amor em seus passeios e brincadeiras pelos bosques e ruas da cidade. Um dia, Giuseppe desaparece sem deixar rastros, e nem seus pais, nem os pais de Luna e nem as autoridades dão satisfação quanto ao misterioso sumiço. A menina, então, parte em busca de seu amado. Inspirado em uma tragédia real, O Fantasma de Sicília parte de uma história simples para imergir seu espectador numa narrativa extremamente lúdica, dócil e recheada de alegorias mitológicas, aproveitando os temas e metáforas para fazer um triste recorte das relações entre pais e filhos.

Todos os elementos da obra convergem para construir uma aura mística na saga de Luna. Desde o destaque para os sons da natureza e do vento ao uso de lentes grandes angulares (que aproveitam ao máximo os belos cenários), a obra cria, principalmente nas cenas ambientadas na floresta, uma forte conexão de Luna com a natureza, algo que ainda é retratado também pela presença constante de animais, principalmente cavalos e a coruja (que se torna companheira da protagonista).

O caminho para entender e sentir O Fantasma de Sicília reside nos diálogos entre Luna e as demais crianças do filme. Observamos, por exemplo, que assim como a mãe da protagonista é extremamente rigorosa, os pais de Giuseppe são irresponsáveis (e culpados por seu destino), enquanto a melhor amiga da protagonista, Loredana, exibe marcas no braço que sugerem agressão em casa. A obra, então, nos dá aqui e ali pistas de que é uma história sobre um grande vazio na relação entre pais e filhos, mostrando como os erros de uma geração podem impactar na felicidade de seus descendentes.

Com isso, cria-se na Sicília um ambiente opressor, violento. Um mundo dominado pelo crime extremamente hostil para as crianças que lá habitam. Resta, às crianças, procurar o escapismo em seus devaneios sobre deuses e ninfas que, de acordo com um dos personagens, voltarão a ocupar a ilha quando a humanidade deixar de existir. É curioso notar como a obra sempre flerta com o fantástico, mais nunca abraça (diferente do similar e fantástico O Labirinto do Fauno), como se os seres místicos mencionados estivessem à espreita, observando e protegendo, algo materializado pelas câmeras com imagem distorcida posicionadas atrás das árvores, como se Luna fosse sempre observada por uma força mágica.

Com dois primeiros atos encantadores, O Fantasma de Sicília sucumbe pela dificuldade de conclusão encontrada pela dupla de diretores. Com uma enorme sequência de cenas que sempre parecem ser o fechamento da obra, o longa nunca acaba quando sugere que o fará, tornando o terceiro ato confuso, disperso e sem o impacto dramático necessário. Mesmo assim, as lindas nuances narrativas encontradas pelos temas pelos quais a obra lindamente navega, como abuso infantil, herança, amor e misticismo, fazem de O Fantasma de Sicília um filme emocionante e, mesmo que dê passos maiores que as próprias pernas, audacioso.

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