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20º FESTCURTASBH – Mostra Cinema Negro: Raízes

20º FESTCURTASBH – Mostra Cinema Negro: Raízes

Yasmine Evaristo - 23 de agosto de 2018

No programa da Mostra Cinema Negro que compôs o 20º FESTCURTASBH, intitulado “Raízes”, as diversas abordagens constroem o passado da cultura negra. O programa inicia-se com um documentário-documento sobre o samba; em seguida, constrói um olhar sobre a resistência quilombola; e, ao fim, retorna ao tema “samba” em seus dois últimos curtas.

Aniceto do Império em dia de alforria Zózimo Bulbul 20º FESTCURTASBH

Fonte: 20º FESTCURTASBH

Aniceto do Império em Dia de Alforria (1981)

Direção: Zózimo Bubul
Rio de Janeiro, 12 min

O curta do cineasta Zózimo Bubul registra o relato de Aniceto de Menezes Silva Júnior, na época com 72 anos, fundador da escola de samba Império Serrano. O documentado relata sua história como morador dos morros do Rio de Janeiro e conta sobre sua vida profissional e seus feitos como líder sindical.

A projeção começa diretamente no depoimento de alguém que viveu a história das favelas e a vida dos trabalhadores braçais da cidade. O curta, além de ser um documentário, é o documento de uma narrativa apagada pela história oficial.

Pra Se Contar Uma História Elen Lint, Lucicleide Santos Diego Jesus Leandro Rodrigues 20º FESTCURTASBH

Fonte: 20º FESTCURTASBH

Pra Se Contar Uma História (2013)

Direção: Elen Linth, Lucicleide Santos, Diego Jesus, Leandro Rodrigues
Bahia, 25 min

A narradora Neguinha possui um desejo. O desejo político de contar uma história. No curta, feito por várias mãos, há o resgate e o registro da memória da comunidade quilombola de Santiago do Iguape, no estado da Bahia. A população da região vive da pesca de mariscos e da feitura do azeite de dendê.

O ato de ver pelos olhos de alguém que pertence àquele local altera a percepção comum do espectador externo, que objetifica certos corpos. Ouvimos isso da voz de uma das mulheres entrevistadas, que exprime sua insatisfação com os vários grupos que passaram por aquele lugar registrando a rotina dos moradores, com falsas promessas de melhorias provenientes desses registros.

“Pra Se Contar Uma História” inverte o olhar  etnocêntrico para que os relatos dados desconstruam as noções que temos de sucesso, educação, trabalho, brincadeira e resistência.

Assista ao curta aqui.

Gurufim na Mangueira Danddara 20º FESTCURTASBH

Fonte: 20º FESTCURTASBH

Gurufim na Mangueira (2000)

Direção: Danddara
Rio de Janeiro. 26 min

Um líder comunitário morre repentinamente. Seu velório é feito na quadra de sua escola de samba. Durante esse funeral com cara de comemoração, as relações de mudança de identidade da população negra dos morros é construída. Isso acontece por meio dos diálogos sobre as músicas cantadas e tocadas no evento. A velha guarda do samba implica com a ascensão do funk.  O universo do samba, multicolorido, desconstrói o clima fúnebre.

As relações entre o morto e seus companheiros é mostrada em um espaço entre Céu e Terra / Orum e Aiê, no qual ele se despede dos seus e faz sua passagem. Dois “alemães”, a amante e um amigo, representam os invasores daquele espaço, sempre sendo posicionados como elementos hostis a dinâmica do grupo.

“Gurufim” é sobre “passar o bastão” entre as gerações e as identidades que se mesclam para fortalecer o percurso da história de um povo.

Assista ao curta aqui.

Rainha Sabrina Fidalgo 20º FESTCURTASBH

Fonte: 20º FESTCURTASBH

Rainha (2016)

Direção: Sabrina Fidalgo
Rio de Janeira. 30 min

Rita, uma jovem moça da periferia, tem o sonho de ser madrinha de bateria da escola de samba da sua comunidade. Ela dedica seu tempo à busca por um ideal de beleza que a fará alcançar sua meta. Quando finalmente realiza seu sonho, precisará lidar contra forças internas e externas que podem impedi-la de ser rainha.

A fotografia em preto e branco, com luz e sombra bem utilizadas, somadas aos close-ups no rosto da atriz, aumentam o clima de tensão criado a cada adversidade passada pela personagem. As cenas nas quais Rita faz algum tipo de esforço físico são marcadas por muita tensão e uma forte crítica à beleza idealizada que busca incessantemente. É irônico observar que sua oponente se encontra fora do padrão estético ditado comumente.

Outro ponto abordado magistralmente por Sabrina Fidalgo é a prática da sororidade, que, no desenvolver do filme, é encoberta pela disputa entre mulheres. Isso nos faz pensar no quanto ocupar um local de poder desperta a ira alheia. Somando-se a isso, o racismo institucional e as agressões físicas e psicológicas feitas a Rita se encontram além da superfície do filme. Ela representa as agressões sofridas pelos corpos femininos negros na sociedade em que vivemos.

Assista aqui ao teaser do curta.

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