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3ª MSDC – Quilombo Mata Cavalo; Parque Oeste

3ª MSDC – Quilombo Mata Cavalo; Parque Oeste

Comentários sobre os filmes vistos na quinta (7/11), durante a 3ª Mostra Sesc de Cinema

Matheus Fiore - 9 de novembro de 2019

Os dois filmes vistos na quinta-feira, durante a 3ª Mostra Sesc de Cinema, possuem muito em comum não só entre si, mas com dois grandes filmes lançados no Brasil em 2019. Tanto “Parasita”, do sul-coreano Bong Joon-ho, quanto “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho – aliás, ambos premiados em Cannes –, falam sobre relações espaciais no mundo capitalista. A luta pela preservação do espaço e da cultura diante da invasão de “forças maiores”.

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“Quilombo Mata Cavalo”, de Jurandir Amaral – ★★★★

No caso deste curta-metragem de Jurandir Amaral, o espectador assiste a um importante registro de uma comunidade quilombola localizada no Mato Grosso e que enfrenta sérios problemas diante da possível perda de seu lar.

A comunidade, que possui mais de cem anos de história, é documentada de forma a valorizar suas tradições. Jurandir Amaral escolhe sempre os mais velhos e sábios da comunidade para dar depoimentos que falam não só do processo legal pela posse do terreno – que inclui erros e acertos do governo Lula que o curta, acertadamente, opta por expor, mostrando a complexidade da situação –, mas também de como as tradições centenárias dos quilombolas só existem pela forte ligação deles com o lugar.

As quase 500 famílias que vivem no quilombo vivem baseados na agricultura. Jurandir filma o trabalho de subsistência dos moradores do quilombo com carinho, de forma que a relação entre os herdeiros dos 33 negros que herdaram o terreno há mais de cem anos e o alimento por eles plantado se torna, para além da subsistência, uma relação de manutenção da cultura e da tradição dos que ali vivem.

“Parque Oeste”, de Fabiana Assis – ★★★★

Todo filme é um documento de seu tempo, e “Parque Oeste” parece levar esse conceito como pedra fundamental de sua narrativa. O documentário de Fabiana Assis começa utilizando fotografias da construção de Goiânia e, depois, imagens em vídeo que mostram o desenvolvimento da cidade. O registro histórico prévio já nos dá o contexto necessário, mostrando o Brasil em uma época de avanços estruturais típicos do capitalismo. O que vem depois, porém, é, socialmente, desastroso – e cinematograficamente, muito bem contado.

O documentário acompanha a trajetória dos habitantes do Parque Oeste, um bairro de Goiânia que vivia em uma região abandonada, utilizada por criminosos para desovar corpos e se desfazer de veículos. Surge, porém, um condomínio elitizado na região, e todos os moradores são expulsos a força do lugar.

“Parque Oeste” retrata a trajetória dos moradores dessa região e mostra como ficou suas vidas após a expulsão, que aconteceu de forma extremamente violenta por parte da polícia, levando até mesmo à morte de vários dos moradores do Parque Oeste.

O interessante de “Parque Oeste” é que, pelos acontecimentos e pelos registros que estão nas mãos de Fabiana Assis, o documentário poderia facilmente apenas explorar a tragédia da situação para comover o público, mas escolhe, na verdade, mostrar como os sobreviventes do massacre se uniram e resistiram. A personagem principal do documentário, por exemplo, tornou-se uma liderança do grupo sobrevivente, sempre lutando por melhorias nas regiões onde vive e até mesmo abre mão de parte de suas posses para o bem da comunidade.

Ao fim, “Parque Oeste” obtém êxito por criar esse interessante paralelo entre o capitalismo e o trabalhador: enquanto a protagonista é capaz de abrir mão de parte do pouco que tem em prol da comunidade, o capitalismo, por meio das empreiteiras e da prefeitura goianiense, acabam por sequer respeitar a humanidade dos indivíduos que residiam no Parque Oeste.

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