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Deuses Americanos 2×03 – Muninn

Deuses Americanos 2×03 – Muninn

Nomes antigos não escondem a falta de conteúdo

Gustavo Pereira - 28 de março de 2019

Quando “House” ainda estava no ar, uma discussão que se tinha era sobre a série ser “difícil de entender”. Há espaço para debater, mas talvez o leitor concorde que, fora os termos médicos (“fibromatose”, “osteosarcoma” e afins), não havia nada que realmente complicasse a compreensão do que era dito. Com isso em mente, acompanhe esta crítica de “Muninn”, terceiro episódio da segunda temporada de “Deuses Americanos”.

Deuses Americanos American Gods Neil Gaiman temporada 2 Muninn

Você não perde por esperar

A regra de ouro da comunicação é ser simples e direto. Não adianta falar algo interessante se ninguém entender. A ficção, também uma forma de comunicação, deve instigar o seu espectador, mas nunca jogá-lo no completo escuro. Em menos de 30 segundos, “Muninn” desfila dois termos que confundem quem não os conhece e são redundantes para quem sabe do que se trata: o primeiro é o próprio nome do episódio, um dos corvos de Odin, os “olhos” que o Velho Deus recebeu em troca do sacrifício de um de seus próprios olhos. O outro é “berserker”, o guerreiro nórdico conhecido por sua fúria incontrolável, ao referir-se a Betty, carro de Odin.

O crítico de arte sempre é colocado na berlinda por ora reclamar que uma obra “explica tudo”, ora por ela “não explicar nada”. O problema com os chamados diálogos expositivos – uma reclamação constante nas minhas críticas – é o fato de serem a forma mais preguiçosa de dar informação ao público. De não serem naturais. O diálogo expositivo é configurado por dois personagens falando algo que ambos já sabem, apenas para que o público também saiba. “Muninn” tem um dos exemplos mais cristalinos dessa técnica: Íbis conta a história de Argos a um gato. Um gato.

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“How, the fuck

Indo de um núcleo a outro, mas com muito pouco de fato acontecendo, o episódio de “Deuses Americanos” tenta “maquiar” esta falta de conteúdo desorientando o seu espectador. “O que é berserker?”, “Quem é Muninn?”, “Recarregar moeda?”, tudo uma perda de tempo calculada, para justificar os personagens em trânsito sem a obrigação de desenvolvê-los. A única exceção positiva é o Technical Boy, o único dos Novos Deuses que age como um deus. A insolência dirigida por ele a qualquer um é, pra dizer o mínimo, coerente à representação da internet. Ele não pode se acanhar – e não se acanha.

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… this is an upgrade?”

“Muninn” apresenta duas personagens. A Nova Mídia (Kahyun Kim) foi a saída encontrada para justificar a saída de Gillian Anderson. Ao contrário dos clássicos da televisão, cinema e música do século 20, a Nova Mídia é uma personificação das redes sociais. A forma como Kim entrega suas falas de forma eufórica, superlativa e descartável capturam bem a proposta. Mas o melhor momento de todo o episódio, vindo exatamente de Technical Boy em nome de toda a audiência, é uma dupla metalinguagem: “como esta por… é um upgrade?” questiona a alegada evolução das mídias por meio das redes sociais, mas também não deixa de ser uma leve alfinetada na troca do elenco. Sempre que um roteiro faz piada de si mesmo, a pergunta inevitável é “se sabem que tá ruim, por que não fazem bem?”.

Deuses Americanos American Gods Neil Gaiman temporada 2 Muninn

A fotografia, criticada em episódios anteriores, volta a criar quadros interessantes: cinco cores análogas criam uma sensação de equilíbrio e balanço, apenas para o vermelho contrastante orientar o olho do espectador. Aliado à super câmera lenta, uma composição muito bonita

A outra personagem a dar as caras é Samantha Blackcrow. Os leitores do livro de Neil Gaiman sabem que ela tem um arco próprio, pequeno e paralelo, mas ainda assim interessante. Caso “Deuses Americanos” decida dar mais tempo a ela, uma cena particularmente hilária com os Spooks cairia bem. Sobre o humor, é justo registrar: as piadas com Mad Sweeney podem ser repetitivas (todo mundo já entendeu que, sem a moeda, ele não tem sorte), mas fazem rir pela criatividade, além do ótimo trabalho de Pablo Schreiber.

Deuses Americanos American Gods Neil Gaiman temporada 2 Muninn

“Muninn” é um episódio bem fraco, mas a segunda temporada de “Deuses Americanos” se encaminha para a metade. Nesse ponto, a maioria das séries costuma apresentar uma reviravolta para ser resolvida nos episódios finais. Que venha sem muletas dessa vez. Leia mais sobre a série aqui.

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