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Às vezes as pessoas esquecem, mas “audiovisual” é a combinação das palavras “áudio” e “visual”. A Televisão e o Cinema podem comunicar com imagens. O episódio dessa semana de “Deuses Americanos” mostra que, inclusive, o peso de uma mensagem transmitida em imagens é muito maior do que quando são apenas palavras jogadas ao vento.
Há uma associação entre o calvário de Shadow e o de Cristo, uma associação que fará muito sentido lá na frente (os leitores do livro já sabem o porquê)
“O Homem Sedutor” é marcado, principalmente, por um flashback de Shadow Moon contando sobre a sua chegada aos Estados Unidos após a infância na França. Essa narrativa é interessante porque não apenas explica a falta de fé de Shadow como mostra que a dureza dos Estados Unidos não é exclusiva para os Velhos Deuses. Cumprindo o mesmo papel que a história de Sammy Jankis em “Amnésia”, esse flashback funciona como a “cola” que une os demais segmentos do episódio. Como são tramas em desenvolvimento, não há muito para falar sobre elas, mas valem alguns registros.
No momento mais duro da lembrança de Shadow, a bandeira americana aparece ao contrário: os valores defendidos pelos fundadores estão invertidos se você não faz parte dos “escolhidos” (ou simplesmente a pátria virou as costas para alguns de seus filhos)
Orlando Jones é excelente. É uma pena que o tempo de Mr. Nancy com Odin tenha sido tão breve, pois a piada com frango frito não apenas é hilária como acrescenta uma camada extra no ódio declarado do Velho Deus a todas as formas de racismo. Pablo Schreiber também não tem o crédito merecido. Seu Mad Sweeney é desbocado, sarcástico, cruel, sensível e afetuoso ao mesmo tempo. Crispin Glover tem uma expressão facial única, desajustada e aterrorizante. Seu domínio vocal é digno de nota. Mr. World não muda o tom de voz em nenhum momento da série, mas toda uma gama de sentimentos é transmitida.
Quando os eventos apresentados na lembrança de Shadow culminam na sua perda de fé, o Cristo em sua retina sai de foco
Mas esse episódio é realmente sobre Shadow. É a lembrança da mãe e do drama vivido por ele que lhe dá força para resistir à tortura de Mr. Town (Dean Winters). Os fragmentos são filmados em proporção Cinemascope (21:9), contrastando com o 16:9 adotado no resto da série. As cores são mais dessaturadas e azuladas, separando aqueles eventos do restante da série. Neste aspecto, é o arco mais particular de “Deuses Americanos”, porque as ligações com o resto da história são sutis e secundárias.
Quando ele retoma a fé, é isso o que vimos em seu olhar. Exemplo simples e eficiente de contar história por imagens. Sem perder um segundo com diálogos expositivos, o público entende tudo.
“Deuses Americanos” já teve fillers melhores. “A Prayer for Mad Sweeney” é, inclusive, um dos melhores episódios de toda a série. Mas “O Homem Sedutor”, ao menos, aponta para um caminho e aprofunda o conhecimento do público sobre o protagonista da série. Em relação ao episódio anterior, já foi um avanço.