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Deuses Americanos 2×02 – O Homem Sedutor

Deuses Americanos 2×02 – O Homem Sedutor

Um episódio de comunicação não-verbal

Gustavo Pereira - 18 de março de 2019

Às vezes as pessoas esquecem, mas “audiovisual” é a combinação das palavras “áudio” e “visual”. A Televisão e o Cinema podem comunicar com imagens. O episódio dessa semana de “Deuses Americanos” mostra que, inclusive, o peso de uma mensagem transmitida em imagens é muito maior do que quando são apenas palavras jogadas ao vento.

Deuses Americanos American Gods Neil Gaiman temporada 2 O Homem Sedutor The Beguilling Man

Há uma associação entre o calvário de Shadow e o de Cristo, uma associação que fará muito sentido lá na frente (os leitores do livro já sabem o porquê)

“O Homem Sedutor” é marcado, principalmente, por um flashback de Shadow Moon contando sobre a sua chegada aos Estados Unidos após a infância na França. Essa narrativa é interessante porque não apenas explica a falta de fé de Shadow como mostra que a dureza dos Estados Unidos não é exclusiva para os Velhos Deuses. Cumprindo o mesmo papel que a história de Sammy Jankis em “Amnésia”, esse flashback funciona como a “cola” que une os demais segmentos do episódio. Como são tramas em desenvolvimento, não há muito para falar sobre elas, mas valem alguns registros.

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No momento mais duro da lembrança de Shadow, a bandeira americana aparece ao contrário: os valores defendidos pelos fundadores estão invertidos se você não faz parte dos “escolhidos” (ou simplesmente a pátria virou as costas para alguns de seus filhos)

Orlando Jones é excelente. É uma pena que o tempo de Mr. Nancy com Odin tenha sido tão breve, pois a piada com frango frito não apenas é hilária como acrescenta uma camada extra no ódio declarado do Velho Deus a todas as formas de racismo. Pablo Schreiber também não tem o crédito merecido. Seu Mad Sweeney é desbocado, sarcástico, cruel, sensível e afetuoso ao mesmo tempo. Crispin Glover tem uma expressão facial única, desajustada e aterrorizante. Seu domínio vocal é digno de nota. Mr. World não muda o tom de voz em nenhum momento da série, mas toda uma gama de sentimentos é transmitida.

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Quando os eventos apresentados na lembrança de Shadow culminam na sua perda de fé, o Cristo em sua retina sai de foco

Mas esse episódio é realmente sobre Shadow. É a lembrança da mãe e do drama vivido por ele que lhe dá força para resistir à tortura de Mr. Town (Dean Winters). Os fragmentos são filmados em proporção Cinemascope (21:9), contrastando com o 16:9 adotado no resto da série. As cores são mais dessaturadas e azuladas, separando aqueles eventos do restante da série. Neste aspecto, é o arco mais particular de “Deuses Americanos”, porque as ligações com o resto da história são sutis e secundárias.

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Quando ele retoma a fé, é isso o que vimos em seu olhar. Exemplo simples e eficiente de contar história por imagens. Sem perder um segundo com diálogos expositivos, o público entende tudo.

“Deuses Americanos” já teve fillers melhores. “A Prayer for Mad Sweeney” é, inclusive, um dos melhores episódios de toda a série. Mas “O Homem Sedutor”, ao menos, aponta para um caminho e aprofunda o conhecimento do público sobre o protagonista da série. Em relação ao episódio anterior, já foi um avanço.

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