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Deuses Americanos 2×07 – O Tesouro do Sol

Deuses Americanos 2×07 – O Tesouro do Sol

Histórias são mais verdadeiras que a verdade

Gustavo Pereira - 25 de abril de 2019

“O Tesouro do Sol” é um “irmão” de “A Prayer for Mad Sweeney“, no sentido de que também acrescenta complexidade à figura do leprechaun. O penúltimo episódio da segunda temporada de “Deuses Americanos” fica no meio do caminho entre um completo filler e um avanço mínimo na história central, com a iminente guerra entre Novos e Velhos Deuses prometida desde o final da temporada passada.

Deuses Americanos American Gods Neil Gaiman temporada 2 O Tesouro do Sol Treasure of the Sun

Essa é uma das maiores vantagens das séries. Um filme de duas horas não fornece tempo para que um personagem secundário floresça e mude de patamar na estima do espectador. Sweeney surge como um malandro, um fanfarrão. Seus alívios cômicos, como os repetidos golpes de azar, humanizaram lentamente a sua figura. E essa repentina (e recorrente, pois sua moeda nunca mais voltou) falta de sorte fez crescer uma surpreendente empatia pelo personagem. “Coitado, ele não merece isso”, começou a pensar o público.

Esse trabalho cuidadoso culmina em “O Tesouro do Sol”, quando o arco do personagem é concluído. Mais uma vez, “Deuses Americanos” usa de referências folclóricas para dar significado à sua narrativa. Neste caso, Mad Sweeney vê nas mulheres de luto na funerária a figura de banshees. E, antes que alguém imagine que isso é apenas (mais uma) paranoia do personagem, uma conversa com Jacquel levanta um dos questionamentos mais antigos da ficção: “histórias são mais verdadeiras do que a verdade”.

Deuses Americanos American Gods Neil Gaiman temporada 2 O Tesouro do Sol Treasure of the Sun

Isso significa, de forma simplificada, que a verdade está na percepção e não nos fatos. É K de “Blade Runner 2049” achando ser mais do que é por uma lembrança. Ou Harry Potter pensando que Dumbledore não confia nele por deixar suas emoções guiá-lo em “A Ordem da Fênix”. É a própria base de “Deuses Americanos”, em que divindades são tão poderosas quanto o número e o tamanho da fé de seus seguidores. A ficção em si depende mais da percepção do que da “verdade”. É a – inúmeras vezes já citada em meus textos – suspensão de descrença.

Nesse sentido, a revelação do passado de Sweeney, porque ele “deve uma luta” a Odin e como ele se tornou o que é funcionam como uma ferramenta de metalinguagem do próprio gênero. O personagem se liberta quando realinha suas lembranças. E toma uma decisão que ninguém o imaginaria tomando no episódio-piloto de “Deuses Americanos”.

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O grande problema de “O Tesouro do Sol” não tem nada a ver com esta conclusão. A série caminhou a passos de tartaruga para a guerra e chegou ao seu penúltimo episódio com o mínimo preparo de terreno para isso. Caso ela faça o que fez na temporada anterior, onde seu último episódio se encerrou com a iminência da guerra em vez da guerra em si, será um tremendo de um estelionato emocional.

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