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Kóblic

Kóblic

Matheus Fiore - 10 de outubro de 2016

Ricardo Darín é um verdadeiro ícone do cinema argentino. Mais do que isso, é quase um rockstar, como Charly Garcia e o saudoso Luis Alberto Spinetta. Tendo como principal trabalho o vencedor do Oscar de filme estrangeiro O Segredo Dos Seus Olhos, possui uma carreira recheada de grandes e renomadas atuações que o proporcionam um status de ídolo como poucos no cinema argentino. Nem sempre, porém, o ator acerta em suas escolhas. Depois de Truman, fraca comédia dramática dirigida por Cesc Gay, Darín amarga mais uma má escolha com Kóblic.

Este novo longa conta a história de Kóblic, piloto militar argentino que após presenciar um evento traumático, abandona sua carreira e, com ajuda de amigos, tenta se esconder numa pequena cidade do interior argentino e recomeçar sua vida. A situação começa a ficar estranha quando o chefe de polícia da cidade, Velarde (Oscar Martínez, que recentemente esteve sublime em Paulina), começa a suspeitar da identidade do protagonista.

O primeiro ato do filme é interessante e funcional. Kóblic, seus amigos e o chefe de polícia são bem apresentados. Há uma boa tensão entre o protagonista e o vilão construída não só pelo altíssimo nível dos atores como pela direção e pela fotografia, que inspiradas nos clássicos faroestes, dão destaque para os olhares fixos dos personagens em planos longos e estáveis. O roteiro, porém, prejudica um pouco. Kóblic toma algumas decisões totalmente incoerentes para o militar experiente e foragido que é.

No segundo ato o herói passa a ter pesadelos que se repetem ao longo da projeção e, aos poucos, explicam o incidente que o fez abandonar as forças armadas. Além da imagem embaçada nos sonhos, o protagonista sempre acorda nervoso, banhado por uma luz azul escura e sempre com alguma pequena iluminação alaranjada no quadro. Esta dinâmica das cores  azul  e laranja é um dos detalhes mais interessantes do filme. Conforme o caso vai sendo explicado, maior é a iluminação alaranjada no personagem, até que, perto do fim do filme, quando tudo é explicado, o rosto de Kóblic está totalmente laranja.

No mesmo segundo ato, porém, o filme se perde totalmente ao inserir personagens totalmente estereotipados e mal desenvolvidos. Há um romance repentino e inexplicável, conflitos que surgem e se resolvem ou somem tão rapidamente que mal podemos perceber sua passagem e um excesso de diálogos expositivos para tentar compensar o vazio estrutural do roteiro.

Perto da conclusão, nem mais as atuações dos fantásticos Darín e Martínez são capazes de salvar Kóblic, que ao tentar abraçar todos os gêneros possíveis, não executa nenhum com qualidade. O resultado é um filme confuso e cru. O mais triste é constatar que este poderia ter sido um longa para proporcionar uma bem-vinda crítica ao período da ditadura que assombrou a Argentina nos anos 70, envolvendo dois dos mais talentosos atores do cinema sul-americano atual, mas acaba sendo mesmo um buddy-movie romantizado com maus momentos de ação e espionagem.

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