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DRVO – A Árvore

DRVO – A Árvore

Redação - 9 de junho de 2018
Por Arthur Salles

Galardoado com o Prêmio Novo Olhar para Melhor Filme em 2013 por “Cativeiro”, no 3º Olhar de Cinema, o diretor André Gil Mata retorna à capital paranaense apresentando seu novo longa “DRVO – A Árvore” (com passagem já por Berlim). Agora participante da mostra Competitiva, na atual edição do Festival, o cineasta concebe sua nova obra como uma experiência por intermédio do tempo e a exploração sensorial junto ao público.

Aos moldes de Andrei Tarkovski e Béla Tarr, o longa acompanha duas jornadas distintas em meio a uma arruinada Sarajevo durante um conflito armado. De seus personagens com nomes revelados somente nos créditos finais, observamos a coleta de garrafas de vidro em escuros becos e a travessia de canoa por um extenso rio pela perspectiva do Homem. O segundo polo narrativo concentra-se nos esforços do Menino em encontrar sua mãe, capturada por um dos lados da guerra. O percurso de ambos personagens é moroso, seguido de perto, quase que em tempo real, e fragmentado igualmente em duas metades.

A abordagem estética de Gil Mata prioriza as ações de seus personagens por meio de longuíssimos planos, percorrendo ruas desertas, casas abandonadas, florestas e a margem lodosa de um rio ao mesmo passo dos protagonistas, acompanhados somente pelos ruídos de passos na neve, da corrente de um rio e do tilintar das garrafas. As imagens não chegam a revelar ou sugerir algo além do que é, de fato, visto, desprezando possíveis signos e interpretações psicológicas – mas valorando seu rumo pela sensorialidade entre filme e público.

É notável a desconstrução geográfica que “DRVO – A Árvore” promove, localizando sua trama em ambientes comuns (como os já citados), sem depender da afirmação territorial – ainda que o fantasma de uma guerra específica assombre o passado dos personagens e reverbere, por longa duração e diferentes locais, o som de tiros e explosões pelo arrastado presente. Outro fato é o tratamento quase atemporal dado à trama, contextualizando o filme em um passado incerto quanto a datas, mas definitivamente marcado por tragédias, que se tornam reincidentes e sem espera de um fim. De Tarkovski o filme herda a construção da memória (e existência) carregada pela passagem do tempo, a qual se define pelas ações dos próprios personagens; de Tarr, o fatalismo atrelado às impossíveis jornadas empregadas por suas figuras.

Ao longo de sua primeira hora, “DRVO – A Árvore” gira em torno da triste condição de impotência de Homem e Menino, caminhando a esmo e sem reais expectativas pelo território danado. É por meio desse olhar sobre ações prosaicas que ocorre a exploração da intimidade de cada andarilho, cujos dramas são problemáticas existenciais da humanidade como um todo. O medo do presente é constante em ambos, mas o tratamento afetivo dado ao passado e futuro é o que separa um do outro, para, em seu provocativo final, entrelaçar suas aflições em um afetuoso, ao mesmo tempo que trágico, encontro.

Com a abertura dada pelo conto “As Árvores” de Franz Kafka, a indicação seria de uma resolução a partir de redefinições das substâncias reais (no caso, o passado de um e presente do outro) ante a deformidade da aparência (o que nos é apresentado). Vertendo, no entanto, o tom mais pessimista do austro-húngaro, “DRVO – A Árvore” conforta Homem e Menino com a aceitação de seus destinos, delineados pelas próprias ações e capturado por toda eternidade.


Onde e quando ver: Cineplex 4 – Novo Batel (11/06 – 18h30)

Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Plano Aberto do Festival Olhar de Cinema de 2018.
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