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Ainda Estou Vivo

Ainda Estou Vivo

Dando voz aos esquecidos

Matheus Fiore - 25 de novembro de 2021

Como parte de um projeto de ressocialização, detentos de um presídio de Rondônia vivem em um espaço diferente, focado na socialização entre as pessoas. O documentário Ainda Estou Vivo vai até esse lugar para ressaltar a humanidade dos presidiários, que geralmente são renegados pela sociedade e não encontram espaço para construir uma vida após cumprir seu tempo na cadeia. O diretor André Bonfim opta por uma abordagem bastante respeitosa para seus personagens: registra suas rotinas, ouve suas histórias, acompanha suas atividades… Sem julgamentos, sem críticas e oferecendo apenas voz para quem tem tão pouca.

Por se tratar de um filme limitado a um espaço específico, Ainda Estou Vivo constrói um cenário de vida prévia dos detentos a partir dos depoimentos e memórias dos entrevistados. É um filme, porém, que só se infiltra nesse passado quando o entrevistado assim o deseja. Não há um trabalho de criminologia ou violência, nem sequer uma busca por entender o que levou cada um a estar ali. Ainda Estou Vivo é, na verdade, um documentário muito mais interessado em ressaltar que os presidiário permanecem sendo pessoas e sua memória não deve ser apagada.

Os personagens do documentário têm suas dores e anseios expostos. Alguns se preocupam com o passado, com a família que se distanciou; outros, tem receio de serem transferidos para um presídio padrão e perder a oportunidade de continuar trabalhando na ressocialização. Ao expor esses temores, Bonfim permite que seu filme seja um registro importante da existência e vida dos personagens. De como eles também têm direito a sonhar e viver.

Por mais que sua estrutura um tanto quanto truncada impeça o filme de mergulhar mais no cerne social da situação retratada, Ainda Estou Vivo merece o reconhecimento por nunca desumanizar nem desrespeitar seus entrevistados. Bonfim registra as dores dos presidiários, mas não as usa para provocar um drama rasteiro. Há, acima de tudo, respeito. Pelas imagens captadas e pelas pessoas filmadas. Um tipo de afeto que, infelizmente, a sociedade ainda não parece pronta para oferecer para quem quer apenas uma segunda chance.


Esse texto faz parte da nossa cobertura para o 25º Cine PE. Acompanhe a cobertura completa aqui.

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