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Café Society

Café Society

Matheus Fiore - 18 de agosto de 2016

Os anos 30 em Hollywood sempre são lembrados como “os anos dourados”.  Foi um período de enorme desenvolvimento do cinema americano, lotado de estrelas icônicas como Clark Gable, Greta Garbo e Gary Cooper. Foi uma das épocas que mais despertaram a paixão de milhões de americanos por Los Angeles e pela sétima arte. Café Society, novo filme do cineasta Woody Allen, se passa justamente nesses “anos dourados”.

A obra conta a história de Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg),  jovem novaiorquino que sonha viver no mundo artístico de Hollywood e, com ajuda de sua mãe (Jeannie Berlin), entra em contato com seu tio Phil (Steve Carrell), um bem sucedido e influente agente da indústria cinematográfica. Phil, porém, é um homem ocupado e, quando seu sobrinho chega na cidade, acaba delegando para sua secretária Vonnie (Kristen Stewart) a tarefa de apresentar a cidade para o protagonista.

A narrativa é muito bem construída principalmente pela fotografia e pela direção de arte. O primeiro encontro de Bobby e Vonnie é um dos mais belos momentos do filme. A secretária é banhada por uma luz dourada que poeticamente evidencia a paixão instantânea do protagonista.  A diferença na paleta de cores quando o “casal” está junto, separado, ou em conflito também é acertada.

Essas variações de tons conforme a paixão se desenvolve, cresce ou diminui é um dos maiores acertos do filme e são essenciais para retratar os diferentes estágios da vida dos personagens. Igualmente importantes para retratar os diferentes sentimentos conforme o tempo passa são os enquadramentos e a direção, que posicionam os personagens mais próximos e em maior sintonia conforme o relacionamento se desenvolve.

Esses aspectos técnicos são fundamentais principalmente em um dos momentos mais importantes do filme, na cena do elevador, quando dois personagens são colocados no plano separados por tons que deixam evidente a divergência de sentimentos que assombrará um dos personagens por toda sua vida.

O roteiro, porém, é excessivamente expositivo, simplório e apresenta alguns problemas estruturais. Alguns personagens são forçados na história por quase toda a projeção, funcionando apenas como alívio cômico fora de contexto e tendo sua trama conectada à história principal apenas no fim do segundo ato.

Além disso, a narração é redundante e funciona como muleta. Inúmeras vezes é usada para descrever algo que poderia (e deveria) ser mostrado com imagens. Em outros momentos apenas narra o que já está sendo exibido na tela. Ora, se personagem A beija personagem B e ambos sorriem, há realmente a necessidade de dizer que eles estão se apaixonando?

Apesar de serem atores limitados, Jesse Eisenberg e Kristen Stewart foram escolhas acertadas para os papéis principais. Ambos se encaixam perfeitamente nos papéis de jovem desengonçado e menina confusa. A química dos personagens é bem construída não só pelas cores, mas também pelos enquadramentos, que sempre buscam exibir e em seguida excluir todos os elementos alheios ao relacionamento, mostrando como Bobby e Vonnie se desconectam do mundo quando estão juntos.

Os movimentos de câmera são essenciais para o funcionamento do filme. Em vários momentos a câmera adentra as cenas primeiro ambientando e situando o espectador, para depois achar o centro do momento e dar foco total à ele. Essa dinâmica ajuda a dar mais vida às cenas, que geralmente são calcadas apenas em diálogos.

Infelizmente, até quando o filme vai bem, o roteiro volta a atrapalhar, geralmente assistido pela montagem. inserindo subtramas desinteressantes com personagens subdesenvolvidos entre momentos importantes. Mesmo tendo alguma ligação com a trama principal, algumas cenas se prolongam mais do que o necessário e acabam tirando o foco da narrativa. O que é uma pena, pois mesmo não sendo tão úteis, alguns papéis, como o de Corey Stoll como Ben, tio do protagonista, são interessantes e divertidos, funcionando acertadamente como fuga humorística do roteiro.

Um aspecto que deveria passar despercebido por manter um ritmo eficiente, mas que falha nas más transições, é a montagem. Algumas cenas são inseridas entre a narrativa principal de forma artificial e a transição  entre estes momentos não é nada sutil. Talvez se fizesse uso de raccords (técnica responsável por criar coerência entre a transição de planos por meio de uma “rima” visual) a montagem pudesse dar mais dinamismo ao filme.

Café Society mostra um ótimo trabalho do diretor Woody Allen, mas um mau trabalho do mesmo como escritor. Não é, porém, um mau filme, sendo superior a maioria dos recentes trabalhos do renomado cineasta. Mesmo não trazendo grandes novidades e tendo muitas semelhanças narrativas com outros filmes de Allen, tem mais pontos positivos do que negativos e apresenta uma conclusão seca e realista.

 

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