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É Apenas O Fim do Mundo

É Apenas O Fim do Mundo

Matheus Fiore - 16 de outubro de 2016

Em É Apenas O Fim do Mundo, sem ver sua família há doze anos, Louis (Gaspard Ulliel) decide visitá-los para avisar que está morrendo. Ao chegar em casa, é recebido calorosamente por sua mãe (Nathalie Baye), seus irmãos Suzanne (Léa Seydoux) e Antoine (Vincent Cassel) e cunhada Catherine (Marion Cotillard).

O filme se passa, com exceção de cenas que mal somam um minuto, inteiramente na casa da família. Lá, o protagonista conhece melhor sua cunhada e ouve as novidades referentes às vidas de seus irmãos e mãe. O medo de espantar Louis, porém, logo torna o clima tenso. Com receio de afastar o rapaz, que há muito não era visto, os irmãos acabam sufocando-o com seus próprios problemas.

Com o anseio de mostrar a situação claustrofóbica que Louis se encontra, Dolan torna o filme tão sufocante quanto a situação. Com diálogos imensos e efêmeros retratados quase que exclusivamente com planos fechados nos rostos dos personagens, o longa fica não só cansativo visualmente como dificulta que toda a história contada seja acompanhada.

A trilha original do filme é espetacular, principalmente no terceiro ato, quando as brigas entre os irmãos atingem seu ápice e a música joga um véu melancólico sobre a narrativa. As músicas escolhidas para colorir algumas cenas, porém, são péssimas. Canções intragáveis de Blink-182 e O-Zone tornam alguns momentos infantis e vergonhosos, sendo o ponto baixo do filme.

Conforme a trama se desenvolve, Louis acha conforto e o filme passa a respirar, com uma fotografia mais dinâmica e diálogos com maiores intervalos. O protagonista também passa a se abrir, mas ainda incapaz de dar a triste notícia de sua saúde para a família. Aos poucos o personagem abandona a posição de voyeur que ocupa por quase todo o filme.

A tensão trazida pela presença de Louis acaba levando os irmãos Suzanne e Antoine à infantis e desnecessárias brigas. Que são, porém, muito bem usadas por Dolan para expor os medos e inseguranças dos personagens. As fantásticas atuações de Cassel e Seydoux tornam esses conflitos alguns dos momentos mais dramáticos do filme.

Mesmo não conseguindo passar sua mensagem, Louis percebe que sua presença é um verdadeiro desabafo para todos os familiares. Há, por exemplo, um personagem que fuma escondido do resto da família, no final do filme, é possível ver, de longe, esse personagem fumando numa conversa com os outros. Louis, à distância, sorri e entende sua importância na família.

Mesmo sendo um filme cansativo devido aos planos fechados, enormes monólogos e clima claustrofóbico, o longa encontra sobrevida em seu terceiro ato e consegue encerrar de forma satisfatória, transformando a melancolia dos personagens em peso narrativo. A chegada da luz do Sol, simbolizando a hora de partir de Louis e o expurgo dos fantasmas de seus irmãos, proporciona uma experiência narrativa riquíssima e poética. Longe de ser o desastre apontado por alguns, É Apenas O Fim do Mundo é um filme difícil, mas humano e honesto.

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