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Voyage Of Time: A Life’s Journey

Voyage Of Time: A Life’s Journey

Matheus Fiore - 13 de outubro de 2016

O projeto original desse documentário de Terrence Malick vem sendo trabalhado pelo cineasta há quase quarenta anos. No fantástico A Árvore da Vida, de 2011, foi possível, por cerca de meia hora, ter um gostinho da estética que viria a ser experimentada, quando o filme acompanha a criação da vida desde a formação de galáxias à microrganismos. Esta passagem de A Árvore da Vida é, provavelmente, o momento mais genial e audacioso do longa, e previsivelmente criou grandes expectativas para Voyage Of Time: A Life’s Journey.

Com a proposta de ser uma análise documental da vida em todas as suas formas e aspectos, Voyage Of Time infelizmente não consegue aprofundar o sempre interessante tema. Ao longo dos 90 minutos de projeção, acompanhamos imagens variadas (algumas reais e outras geradas por computação gráfica) de galáxias, nebulosas, planetas, ancestrais humanos, peixes e até bactérias, além de esporádicos momentos de civilizações ao redor do mundo.

A riqueza visual é inquestionável. Cada plano é enquadrado e organizado minuciosamente por Malick e seu diretor de fotografia Paul Atkins. As cenas de buracos negros, nebulosas e formações de galáxias são até mais belas do que as de A Árvore da Vida e mostram a riqueza e imponência da natureza.

Há muita poesia na sobreposição das imagens e uma interessante e subjetiva comparação de formas de vida com proporções abissalmente distintas, desde suas naturezas básicas à suas formações e evoluções. A diferença para A Árvore da Vida, porém, é clara: aqui não há um roteiro que sustente essa beleza e amarre numa narrativa consistente.

Mesmo tendo grande impacto graças à fantástica orquestra que compõe a trilha sonora (que, diga-se de passagem, recicla muitas ideias do próprio Malick), a beleza de Voyage Of Time é sabotada pelos vazios e óbvios questionamentos trazidos pela narração em off de Cate Blanchett, que muitas vezes prejudicam até boas metáforas visuais do filme. Narração, aliás, que fica incômoda por seguir a mesma métrica de intervalos durante toda a projeção, ganhando um ar artificial que prejudica a estética do filme.

Imagens que sugerem a crueldade humana são rapidamente apresentadas mas não estão presentes o suficiente para enriquecer a narrativa, que fica mais arrastada e repetitiva a cada ato do filme. As passagens de diversos povos ao redor do globo também pouco acrescentam e só servem para forçar alguma sensibilização no espectador, algo que poderia ser melhor trabalhado com um roteiro mais robusto.

Que Terrence Malick é um artista genial, não há dúvidas. Mas, no fim das contas, Voyage Of Time acaba servindo apenas como entretenimento abstrato e despretensioso, agradando pela incrível qualidade visual e pela fantástica trilha sonora. É perceptível a existência de um enorme espaço a ser preenchido pelo roteiro, deixado com o objetivo de induzir o público a tirar suas próprias conclusões dos questionamentos apresentados. Infelizmente, essa proposta não funciona e deixa o filme raso. É decepcionante ver uma obra rica visualmente ser tão… Vazia.

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