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Dias de Inverno

Dias de Inverno

As fugas dos universos particulares

Claudio Gabriel - 22 de setembro de 2020

Tedioso. Essa talvez seja a melhor palavra para poder definir “Dias de Inverno”, filme mexicano que está presente na programação do Festival de Gramado 2020. A ideia para a trama do estreante diretor Jaiziel Hernández Máynez trabalhar é bem simples. Ali, encontramos Nestor (Miguel Narro), que vive com sua mãe Lilia (Leticia Huijara) e tem o sonho de morar junto com a irmã, nos Estados Unidos. Habitantes de uma área bastante inóspita no México, eles vivem na base de intensas dificuldades – sejam elas de relacionamento ou financeiras. Dessa forma, acompanhamos uma jornada comum, em busca de fugir da própria realidade.

Jaiziel tem uma ideia bem clara para sua narrativa: um impacto naturalista e o uso do melodrama. Os elementos dramáticos para tudo acontecer já são apresentados na primeira cena. Ali, vemos mãe e filho conversando sobre uma antiga casa da família, que rememora os tempos áureos de cada um, além da história daquela linhagem. Desse jeito, dentro da própria encenação, é possível observar uma resposta diferente para aquela conversa de ambos. Enquanto Nestor parece observar de forma triste, Lilia busca esperança naquele local. Com esse elemento forte de uma ideia passada de universo, poderíamos ver um desenvolvimento sobre as fraturas daquele mundo. Porém, isso é longe de ser o buscado.

O maior problema do desenvolvimento narrativo do longa fica por conta da ideia dele se achar muito maior do que realmente é. Em alguns instantes, é possível ver uma busca de ecos de Douglas Sirk ou do próprio Alfonso Cuarón, especialmente ao trabalhar pequenos momentos como grandiosos (inclusive com a trilha explodindo). O problema é que a direção em momento algum desenvolveu para aquilo aparecer desse jeito. Citando como exemplo o protagonista, Nestor. Em um dos minutos primordiais vemos em um travelling ele andando pela cidade. É como se todo esse universo estivesse aos seus pés, mas fosse tão conhecido, que canssasse. Assim, sua coluna vai se abaixando conforme ele anda. Existe um peso dramático ali, nos gestos. O problema é que Jaiziel vê apenas isso, esquecendo de como deveria existir um desenvolvimento desse personagem. Se suas aspirações são demonstradas por fala são em fugir dessa cidade, em momento algum o filme parece querer mostrar isso.

Algo semelhante acontece com sua mãe. Ela, ao contrário, está estabelecida ali. Em uma das cenas, sai com sua amiga, aceitando aquela realidade de uma maneira até bastante divertida. No entanto, em seguida, se sente fracassada por toda essa realidade. Desse jeito, mais uma vez, a forma que o cineasta constrói as sequências são totalmente inversas ao pensamento trabalhado pela escrita do longa.

Todos esses elementos só transformam a narrativa de “Dias de Inverno” em entediante. A todo instante, parecemos vendo uma produção que está saindo do nada para lugar nenhum. Busca ser grandiosa, quando não tem nenhuma base para isso. Traz felicidade em momentos mais tristes. É complicado esperar qualquer coisa quando toda a linha de desenvolvimento parece não levar para lugar nenhum. Talvez haja um grande filme escondido por detrás de algumas cenas marcantes, como o jogo de boliche entre Nestor e a namorada. Da mesma forma, a cena final finaliza verdadeiramente uma construção de algo que parecia muito claro desde o início. O problema em querer ser algo, é que o filme não parece ser nada ao mesmo tempo. Quem sabe se Jaiziel Hernández Máynez entendesse melhor os momentos maiores, seus ápices pequenos da narrativa trariam algo muito maior escondido por ali.


Esse texto faz parte de nossa cobertura para o 48ª Festival de Cinema de Gramado. Para ir até a página principal de nossa cobertura, clique aqui.
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