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Estilhaços

Estilhaços

Narrativas familiares se conectam com uma tragédia local

Júlia Pulvirenti - 10 de outubro de 2021

Estilhaços (2020), um dos longas da Mostra Competitiva do Olhar de Cinema, é dirigido por Natalia Garayalde e segue a máxima de que “o pessoal é político”. A cineasta une sua história de vida a uma grande tragédia: a explosão da fábrica de armamentos militares, em Rio Tercero, em Córdoba, na Argentina.

O filme consegue encantar logo nos primeiros minutos. A montagem dinâmica, porém sensível, propõe um exercício muito interessante sobre narrativas. As cenas são reais, gravadas na década de 1990, na casa da família Garayalde. As imagens despretensiosas acabam se transformando em registros que vão além da mera recordação. Tudo acontece a 300 metros da fábrica. Assim, a película ganha uma importância ainda maior. A diretora jamais imaginaria o que conseguiria gravar. Natalia mostra na prática a alteração da realidade pelo cinema.

O documentário ganha ares de denúncia com a locução em off, mas sem sensacionalismo. Quanto mais o filme adentra na história da família e na rotina do lar, mais a tragédia se torna palpável para o espectador, que não estava lá. As imagens possuem uma força intimista, gerando uma grande identificação. Outro ponto louvável é a sensação mais existencialista que a obra consegue causar. Vemos os familiares que a cineasta já perdeu. Percebemos um desastre que vitimou algumas pessoas. Uma procura por culpados. As pessoas permanecem vivas em tela. A câmera consegue captar pequenos vestígios de tempo que a memória deixa escapar. Manias, o jeito de rir, a forma de implicar com o outro, a brincadeira entre irmãos. São marcas de dias que foram para nunca mais, mas que se fazem presentes no agora.

É como a cineasta disse: “as pessoas se vão e a imagem fica.” Resta juntar os estilhaços de tempo e investigar o passado.


Este texto faz parte da nossa cobertura para a 10ª edição do Olhar de Cinema.
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