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Megatubarão

Megatubarão

Gustavo Pereira - 8 de agosto de 2018

“Megatubarão” é um dos filmes mais divertidos de 2018 até aqui. Isso não significa que ele figure em nenhuma lista de melhores filmes do ano. Mas, além do genuíno entretenimento, a aventura estrelada por Jason Statham serve a qualquer um que deseje entender como um filme tão-ruim-que-é-bom funciona.

Megatubarão The Meg Jason Statham

Fé em Deus, DJ!

O principal aspecto positivo de “Megatubarão” é o equilíbrio entre o absurdo e o realístico. De forma objetiva, o filme acredita na própria história. Assim sendo, quando os cientistas da estação marítima Mana Um alegam ter descoberto um novo ecossistema no solo do Mar da China camuflado por uma nuvem de gases, a única reação possível para o público é o riso. E isso não é algo ruim, mas a conexão mais forte entre obra e audiência. Quando essa conexão é estremecida, o filme se torna enfadonho e cansativo.

Jonas Taylor (Statham) é convocado a sair de sua aposentadoria para resgatar uma equipe de pesquisadores presa num submergível. Esse chamado à ação o obriga a confrontar os fantasmas do passado, quando estive em situação semelhante e precisou tomar uma decisão drástica. No meio do processo, um megalodonte de 25 metros escapa desse ecossistema. Enquanto buscam neutralizar a criatura, os personagens de “Megatubarão” precisam resolver conflitos, internos e externos, podendo assim deixar o passado para trás e seguir em frente.

Megatubarão The Meg Jason Statham

O drama de uma mãe solteira… em alto mar?

Soa cafona. E é mesmo. Como dito no começo desta crítica, ser divertido não é sinônimo de ser bom. Há inúmeros problemas estruturais em “Megatubarão”. Todas as relações entre os personagens são construídas fora da tela, o filme apenas as expõe por meio de diálogos sofríveis. Determinados personagens servem apenas para um propósito específico e depois são colocados de lado. Outros são limitados a uma dimensão de personalidade. Suyin (Bingbing Li) sempre toma decisões que provem sua capacidade e independência, por exemplo. Morris (Rainn Wilson) é o empresário capitalista que vê dinheiro à frente da ciência, por isso seu comportamento é obtuso e ganancioso. Já DJ (Page Kennedy) é o alívio cômico, então a ele só restam as piadas.

Também é questionável a decisão da fotografia de investir exclusivamente em planos fechados, com closes nas expressões de cada personagem o tempo todo. A ideia, no começo, é acertada e parece promissora: as cenas se passam em ambientes fechados e tais planos, inconscientemente, deixam o espectador claustrofóbico. Mas, em cenas externas, a estrutura de plano e contraplano fechados se mantém. Deixa de ter uma função narrativa para se revelar um erro. Um filme chamado “Megatubarão” tem uma – uma! – tomada aberta que mostra o tamanho da criatura em escala com outros objetos, de forma que o público possa mensurar o quão grande ele é.

Megatubarão The Meg Jason Statham

“Você é maluco, mas não é covarde” – melhor síntese de Jonas Taylor (e de Jason Statham)

O que traz à derradeira pergunta. Por que “Megatubarão”, ainda que com todos esses problemas, funciona? É impossível responder a essa pergunta sem mencionar o carisma de Statham. O britânico não tem a profundidade de Daniel Day-Lewis ou o humor de Peter Sellers, mas é “durão” como Sean Connery e fisicamente imponente (Julinho da Van diria “bom de porrada”) como Tom Hardy, apenas para ficar em seus conterrâneos. Ele sabe que, fora das telas, representa um ícone do cinema de ação. Acerta quando transmite essa aura para seus personagens. Algo parecido acontece em “Rampage“, o “primo terrestre” de “Megatubarão”: a honestidade diante do absurdo passa a certeza de que a equipe se divertiu na produção tanto quanto deseja que o espectador se divirta no cinema.

E acaba se divertindo mesmo.

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