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Monster Trucks

Monster Trucks

Gustavo Pereira - 20 de fevereiro de 2017

Todo mundo tem um momento na vida em que precisa levar uma criança ao cinema. Um irmão, um primo, um “mini cunhado” ou todos juntos. Às vezes, chegamos cedo demais a um compromisso e precisamos fazer hora no shopping. É quando precisamos assistir a um filme sem o direito de escolher que torcemos para encontrar algo que, no mínimo, nos entretenha. Monster Trucks, co-produção da Paramount com a Nickelodeon, oferece exatamente isso: um entretenimento honesto, despretensioso e agradável.

Tenha em mente isso: é um filme para crianças. Assista desprendido da necessidade pela lógica física e biológica e definitivamente não procure nenhuma grande mensagem filosófica. Esperar por algo nesse sentido seria decepcionante. E não é a isso que o diretor Chris Wedge (Joe e as baratas, A era do gelo) se propõe.

No interior da Dakota do Norte, a empresa Terravex Energy está prestes a perfurar um imenso poço de petróleo, quando o CEO Reece Tenneson (Rob Lowe) é alertado de que, acima do petróleo, há água. Isso é um indicativo da possibilidade de um ecossistema nas profundezas da terra. Ignorando os indícios, ele manda que a perfuração prossiga e acaba libertando três estranhas criaturas.

Esse aspecto do filme é interessante por um motivo que irei desenvolver ao longo desta crítica.

Dois deles acabam capturados, mas o terceiro monstrinho foge. É de interesse da Terravex que o caso seja abafado, ou a área pode se tornar santuário ambiental, não podendo o poço ser perfurado. Começa, então, a caçada, liderada por Burke (Holt McCallany).

Neste momento, somos apresentados a Tripp (Lucas Till), um rapaz com o originalíssimo sonho de ter um carro e sair da cidade pequena que o oprime. Como ele não pode comprar um, está em processo de montagem do seu próprio monster truck (aquela pick-up com suspensão e rodas imensas) com peças do desmanche onde trabalha (o patrão é ninguém menos que Danny Glover). Ele está no último ano do colégio, mas não vai bem em Biologia. Brecha oportuna para que o roteiro nos apresente Meredith (Jane Levy), nerd que ajuda Tripp a estudar e tem um interesse amoroso nele, embora seja constantemente esnobada.

Não é preciso ser um Xeroque Rolmes para saber que Tripp vai encontrar o monstrinho, não é?

Com algumas gambiarras de pseudomecânica, o “monster truck” é criado, sendo Creech (o nome que Tripp dá à criatura) o motor do veículo. Daí resultam as principais cenas de ação, exibidas no trailer. Desconsidere fatores científicos, como a impossibilidade de uma forma de vida habituada a uma pressão quase 700 vezes maior do que a atmosférica habitar tranquilamente a superfície. Crianças não ligam para isso. A verdadeira faceta de realidade em Monster Trucks é exatamente onde ele parece mais caricato: a Terravex Energy. Não é incomum que cidades pequenas sejam sustentadas pelos impostos de grandes companhias, que acabam se tornando “donas” do espaço público. O descaso com o meio-ambiente em prol do lucro é uma realidade crua do capitalismo selvagem (sem trocadilhos) e o mundo está cheio de magnatas como Reece.

Como pontos positivos do filme, é possível citar o som. Tanto a edição quando a mixagem criam cenários com textura. Vale a pena assistir em uma sala com som surround. O mesmo não pode ser dito sobre o 3D. É praticamente nulo. Também se destacam a direção de arte, que desenvolveu criaturas visualmente encantadoras, a boa química entre Till e Levy em tela e o timing de humor do roteiro. É um humor com o estilo clássico das séries da Nickelodeon. Se for sua praia, não se decepcionará.

Em uma época em que atrocidades como Transformers se levam tão a sério como se fossem volumes da Saga do Anel, um filme desprovido de qualquer intenção além de proporcionar boas risadas é muito bem-vindo.

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