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O Esquadrão Suicida

O Esquadrão Suicida

A moralidade dos heróis e vilões

Claudio Gabriel - 9 de agosto de 2021

Para uma parte do público, os filmes de herói cansaram. Para outra, parecem cada vez mais vivos, com diversas opções aparecendo por toda parte. De todo jeito, muito advindo dos quadrinhos, o debate sobre moralidade é algo que aparece uma hora ou outra nessas produções. Esse elemento fundamental para entender o conceito mesmo de “herói”, como se apenas no âmbito de seguir o bem eles pudessem existir. Pode-se travar um imenso debate a partir disso sobre esse conceito, partindo desde os preâmbulos clássicos da filosofia grega. Contudo, James Gunn parece interessado em compreender como essa ideia sobre moralidade é tão confusa, complexa – e até mesmo imoral – em heróis e vilões. E, aliás, entender também como esses se aproximam mais do que se afastam.

É um pouco disso que “O Esquadrão Suicida” retrata com seu grupo de protagonistas. Partindo desde Bloodsport (Idris Elba), que é alguém que não se vê realmente capaz que trazer algo bom para o mundo, mas está em busca de aprovações com sua filha. E caminhando até mesmo para o Pacificador (John Cena), o seu contraponto que busca o patriotismo como arma fundamental para viver. Só que, atrás de conseguir isso, ele pode ultrapassar qualquer barreira possível. Esse elemento também vai estar presente nos diversos outros protagonistas dessa narrativa, que buscam compreender seus próprios papéis no mundo.

Para idealizar toda essa construção dramática, Gunn equilibra uma história que perpassa também por um debate similar dentro da ideia de nações. Isso porque a trama acontece em uma pequena ilha intitulada Corto Maltese. Por lá, dois generais assumem o poder tomado de uma família que dominava o local há tempos. Assim, os Estados Unidos resolve intervir e leva esses vilões até lá atrás de uma suposta arma alienígena escondida em um prédio. É bem claro como o cineasta já tenta trazer embutida uma crítica da busca eterna por controle americano, e essa mesma busca é o que acontece perante heróis e vilões atrás da moralidade.

É curioso como “O Esquadrão Suicida” é um filme que desenvolve sua narrativa sempre através de pequenas etapas. O longa é extremamente fragmentado nesse sentido, em que pequenas ações ocorrem sempre de formas separadas, a fim de causar maior relevância para os desenvolvimentos próprios dos protagonistas. Essa questão acaba também por construir uma visão extremamente gamificada de universo. O diretor controla sempre esses vilões atrás de atingirem determinados objetivos, ou eliminar totalmente os inimigos do mapa, e até mesmo pular de um prédio para outro. Esse elemento de um jogo que James Gunn impõe faz com que a obra ganhe contornos fortemente irônicos, como se esses seres fossem particularmente impossíveis de viver em um mundo comum. De certa forma, acaba quase sendo uma crítica indireta a toda ideia de realismo imposta por Zack Snyder.

Contudo, apesar das diversas situações e de um certo impacto até visual no lado das mortes, esses vilões nunca sentem nada. É como se, para eles, essa realidade fosse até comum. Dessa forma, a construção final de uma luta em defesa do país (nessa representação totalmente irônica sobre o que é e o que não é nacionalismo, especialmente pelo envolvimento da construção dos Estados Unidos da “arma final”) é feita de uma forma que a morte faz até sentido para essas personas. Mas, será que eles são realmente bons? Pouco interessa. A amoralidade perante a uma situação de extremo conflito e vulnerabilidade faz com que não exista um conceito real de defesa de algo. A busca, no fim das contas, é apenas pelo poder, visto que o lado certo sempre está se reconstruindo na narrativa.

É possível até gerar um paralelo com todo o clímax perante a diversos filmes da Marvel, que trazem o elemento de moralidade na defesa de uma população local. Contudo, até que ponto eles realmente estariam mais interessados nisso do que em se salvar? A ideia de “O Esquadrão Suicida” é realmente observar esse elemento frontal e perceber como esses vilões estão muito mais próximos dos heróis do que se poderia esperar. Assim, esse tom jocoso da obra (que busca piada atrás de piada) consolida seres que praticamente não se importam com uma visão de mundo inteiramente diferente.

No fim das contas, eles podem realmente pensar que estão sendo salvadores da pátria ou até mesmo anti-imperialistas. Porém, esse discurso apenas está conectada como um modus operandi que é similar a de qualquer outro personagem com poderes. No fim da contas, eles estão dentro de uma lógica de dominação que faz com que busquem apenas objetivos pessoais e não coletivos. Para James Gunn, o mundo na verdade não tem salvadores de pátria, e sim apenas pessoas um pouco mais fortes. Mas até que ponto é preciso contar com elas? Bom, se, no fim das contas, todas serão fortemente sem uma moralidade definida, fica até difícil saber.

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