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Takara – A Noite Em Que Nadei

Takara – A Noite Em Que Nadei

Matheus Fiore - 16 de agosto de 2018

Dirigido pela dupla Damien Manivel e Igarashi Kohei, Takara – A Noite Em Que Nadei certamente é um filme de sutilezas. Desde a composição de um quadro à forma como a trilha é usada, é uma obra econômica em seus recursos, mas utiliza todos eles para imprimir candura à fofa jornada de Takara. Filho de um peixeiro, o pequenino fica sozinho em casa toda noite, quando seu pai sai para trabalhar. Um dia, com dificuldades para dormir, o menino desenha um peixe e coloca em sua mochila. No dia seguinte, Takara sai de casa e vaga pela cidade.

Há uma relação quase antagônica nas duas ambientações do filme. Quando acompanhamos Takara dentro de casa, na noite, o uso de planos fechados cria um mundo mais introspectivo, limitado, que é acompanhado pela escuridão. Aos poucos a luz entra, e passamos a acompanhar a jornada do protagonista por planos mais abertos, que se tornam planos gerais à medida que o menino deixa sua casa. A presença da neve ajuda a fortalecer esse contraste, fazendo com que as ruas e o lar do menino pareçam universos opostos.

O que se vê após Takara deixar sua casa é uma mistura entre, de um lado, uma aventura ilustrada pelas descobertas de uma criança em um mundo novo, e, de outro, um ensaio sobre a solidão. Takara interage com os mais variados objetos enquanto procura por seu pai, e parece estar sempre improvisando com o que encontra pela frente. Sob esse escopo, é possível pensarmos o peixe do desenho como uma metáfora para o próprio protagonista. Assim, “A noite em que nadei” do título, seria, então, a noite em que o menino finalmente sai de sua bolha e conhece o mundo – e, se pensarmos assim, a escolha de só se utilizar trilha sonora no momento em que o pai do menino vai embora, permitindo que a trama se desenvolva, é muito precisa.

Já sobre a solidão, que é um tema muito mais discreto e localizado de forma tangencial em relação à narrativa principal, notamos que o filme utiliza planos que se tornam, progressivamente, mais distantes do protagonista, garantindo, inclusive, que a obra não seja vista sob o ponto de vista de Takara; temos, na verdade, um olhar quase documental sobre a jornada da criança. O distanciamento evidencia o vazio que motiva as aventuras do menino.

Takara – A Noite Em Que Nadei, porém, sequer esboça aprofundar qualquer discussão sobre a solidão ou outro tema mais maduro, mesmo que eles existam simplesmente pela forma como o personagem é filmado e se comporta. A intenção da obra é nos permitir construir um olhar observador para as brincadeiras do protagonista – um experimento de contemplação que desafia nossa capacidade de nos mantermos serenos diante de algo tão puro e simples como o vagar de uma criança de seis anos.

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