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Especial Festival do Rio 2017 – Filmes para ficar de olho

Especial Festival do Rio 2017 – Filmes para ficar de olho

Matheus Fiore - 18 de outubro de 2017

Com o fim do Festival do Rio de 2017, muitos filmes entraram no circuito, como Guerra dos SexosDetroit em Rebelião, enquanto alguns como Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe chegaram a serviços de streaming como a Netflix. Boa parte das obras, porém, só chega aos cinemas no fim do ano ou em 2018. Com este artigo, comentaremos alguns dos filmes vistos por nós no Festival e que, em nossa opinião, possuem chances de sucesso na temporada de premiações que se inicia no fim do ano. Há desde filmes que devem competir com Bingo: O Rei das Manhãs pelas vagas entre finalistas do Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira a filmes que devem chegar nas categorias principais, brigando pelos prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção e nas categorias de atuação.

A Forma da Água

Em A Forma da Água acompanhamos um conto de fadas subaquático que, a todo momento, quebra as expectativas geradas em uma obra nos moldes de A Bela e A Fera. Com a subversão de expectativas, Del Toro faz com que seu filme funcione como um manifesto contra o preconceito e o ódio, criando alegorias sociais que funcionam desde para debates sobre racismo e xenofobia até questões sobre o imperialismo americano.

O filme tende a marcar presença em várias categorias do Oscar. A vaga na disputa pelo prêmio de Melhor Ator Coadjuvante é bem provável para Michael Shannon, que vive o vilão do longa. Além dele, Octavia Spencer e Sally Hawkins também têm chances de beliscarem nomeações como Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Atriz. Além das atuações, o próprio Del Toro tem chances de concorrer como diretor; o longa na categoria Melhor Filme e o diretor de fotografia, Dan Laustsen, também pode, pelo menos, sonhar com uma indicação. Nossa crítica do filme pode ser lida aqui.

The Florida Project

Assim como A Forma da ÁguaThe Florida Project tem forte cunho social. Ao retratar uma parte marginalizada dos Estados Unidos – e justamente na região da Disney -, Sean Baker faz com que seu filme seja um potente drama sobre criação, referências e responsabilidade, ao passo que também faça críticas interessantes ao trazer para a luz uma camada extremamente marginalizada da sociedade americana – o que o diretor faz com uma pegada documental importantíssima para o funcionamento da narrativa.

Sendo apenas o segundo filme de Sean Baker, que ficou famoso por Tangerine, é difícil que The Florida Project , pelo menos, não consiga indicações para Willem Defoe e o próprio Sean Baker nas categorias Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Original. Com atuações e desdobramentos narrativos naturais e intimistas, sempre calcados na sutileza, o longa emocionou quem o assistiu no Festival do Rio e foi um dos mais bem avaliados pelo público. A crítica do longa pode ser lida aqui.

Me Chame Pelo Seu Nome

Outro filme calcado na sutileza, Me Chame Pelo Seu Nome não só é um dos melhores do Festival, como um dos melhores do ano. O filme sobre autodescoberta e amor na juventude encantou pela naturalidade com que a sexualidade surge ao longo da narrativa. Nele acompanhamos um adolescente que vive em um pequeno vilarejo italiano e que se apaixona por um aluno de seu pai. Enquanto o romance emerge, vemos um estudo de amadurecimento eficiente graças a naturalidade com que a narrativa é construída.

Só um desastre tiraria as indicações de Armie Hammer e Luca Guadagnino nas categorias Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Direção. Com menos chances, Michael Stuhlbarg também merece ao menos a indicação, pois traz, no ato final, um dos mais intensos e humanos monólogos do cinema recente. Nossa crítica sem spoilers pode ser acessada aqui.

O Artista do Desastre

Dirigido, produzido e protagonizado por James Franco, o filme acompanha a produção do infame The Room (2003), longa que é considerado por muito um dos piores feitos cinematográficos de todos os tempos. O humor que sempre excede os limites da verossimilhança com segurança e sutileza funciona graças ao respeito que Franco exibe por seu personagem, o estranho Tommy Wiseau.

Pelo histórico da Academia de premiar artistas esforçados e envolvidos em biografias, Franco tem alguma chance de ser indicado como Melhor Ator. O gênero do filme, porém, pode dificultar, já que a Academia demonstra resistência contra comédias. Clique aqui para ler nossa crítica do filme.

Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe

A escolha de dar peso ao que não é mostrado em cena faz com que Os Meyerowitz seja um filme humano pela forma como aborda o trivial e como retrata o impacto de uma figura paterna falha nas gerações que sucedem. Noah Baumbach fez de seu filme um painel de grandes atuações: além da dupla Adam Sandler e Ben Stiller (que surpreenderam muito pela forma como demonstram o drama interiorizado), o patriarca vivido por Dustin Hoffman também tem chances de uma indicação. O mais possível, porém, é que Os Meyerowitz consiga uma vaga na categoria Melhor Montagem, já que os cortes possuem importante função narrativa e a divisão por capítulos prova-se essencial para o funcionamento da obra.

O que pode pesar contra é o fato do filme ser uma produção original da Netflix, que protagoniza a guerra entre os grandes estúdios e os serviços de streaming. Clique aqui para ler a crítica do filme.

Detroit em Rebelião

Na atualidade, Kathryn Bigelow sempre será sinônimo de filmes em destaque. No longa, que acompanha um recorte da rebelião ocorrida em Detroit nos anos 70, vemos o caso de um grupo de jovens negros que foi feito de refém e torturado pela força policial local. Além da fantástica fotografia, que utiliza close-ups e uma constante câmera na mão para criar um ambiente imersivo, agressivo e urgente, a atuação de Will Poulter como o policial que antagoniza a trama merece uma indicação como Melhor Ator Coadjuvante. A crítica do filme pode ser lida aqui.

A Roda Gigante

O histórico de polêmicas de Woody Allen somado ao recente caso de abusos e estupros do produtor Harvey Weinstein deve fazer com que o cineasta não seja lembrado, já que a Academia não gostaria de se ver envolta em polêmicas. Por outro lado, Kate Winslet e Vittorio Storaro demonstram estar sedentos por indicações como Melhor Atriz e Melhor Direção de Fotografia. No caso de Winslet, a chance é enorme, tanto pelo histórico da talentosa atriz quanto pelo alto nível de seu trabalho em Roda Gigante, longa que depende essencialmente de sua atuação para funcionar. Já Storaro seria um grande candidato, se não houvesse Roger Deakins com Blade Runner 2049 na disputa.

A trama acompanha a relação de rotina e escapismo dos personagens ao redor da garçonete Ginny. Todos precisam lidar com seus desejos, fracassos e sucessos, ao passo que, conforme a trama se abre, compreendemos o ciclo autodestrutivo que persegue cada um dos personagens – algo que o roteiro peca em enfatizar, mas a fotografia de Storaro tira de letra. Nossa crítica de A Roda Gigante pode ser lida aqui.

Os Oscar Bait da vez: A Guerra dos Sexos e Novitiate

O primeiro aposta principalmente em Emma Stone, recém-premiada por La La Land. Por um lado, é improvável que a Academia premie uma mesma atriz em sequência, tanto pelo conservadorismo dos membros quanto pela fragilidade de A Guerra dos Sexos, que prende-se muito na fidelidade histórica da reconstrução dos fatos e apresenta poucos recursos cinematográficos. Por outro, lado roteiro e a direção podem acabar indicados pela força do marketing e o histórico. dos envolvidos.

Já Novitiate tenta ser um estudo sobre a repressão da sexualidade feminina, mas o resultado é praticamente oposto: fetichista e anti-climático, tudo que o longa consegue fazer é dar espaço para a potente atuação de Melissa Leo, favorecida pela escolha da diretora de filmar quase todo o longa por meio do uso de close ups. Tirando Leo, porém, o longa não se destaca em praticamente nada. Nossas críticas de A Guerra dos Sexos e Novitiate podem ser lidas clicando aqui e aqui.

Os Estrangeiros do ano: 120 Batimentos Por Minuto e A Ciambra

A dupla representa duas das mais importantes escolas de cinema do planeta: a francesa e a italiana. Ambos, porém, decepcionam. 120 Batimentos Por Minuto traz uma ideia interessantíssima de guiar o escopo do público a um grupo de pessoas que, no passado, foi marginalizada, mas derrapa pelo desgaste de duas horas e meia de projeção em uma história que poderia ser encerrada com quase uma hora de antecedência.

A Ciambra segue caminho similar na questão de recortar uma cama marginalizada de uma sociedade, mostrando uma comunidade de ciganos no sul da Itália, nos moldes de Os Incompreendidos, de Truffaut. A falta de constância no tom do filme, porém, incomoda, bem como a frágil direção, que pelo excesso de movimentos de câmera, torna o filme visualmente incômodo e pobre. As críticas dos filmes podem ser lidas aqui e aqui.

Menção honrosa: A Câmera de Claire

A Câmera de Claire certamente não figurará em muitas listas de fim de ano tampouco será lembrado na temporada de premiações. Mesmo assim, em seu novo filme, Hong Sang-soo cria um estudo comportamental acerca da sociedade digno de nota, utilizando seu já conhecido realismo de diálogos (que é bem acompanhado pelas memoráveis interpretações) e imprimindo extrema verdade pela forma com que movimenta e posiciona sua câmera. Sem dúvidas, um dos melhores filmes do festival. Na trama, uma professora viaja para Cannes e lá começa a relacionar-se com um grupo de coreanos que participa do festival de cinema. A crítica pode ser lida aqui.

Para conferir a (curta) lista de filmes vistos no Festival do Rio, clique aqui.

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