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Game of Thrones 7×01 – Dragonstone

Game of Thrones 7×01 – Dragonstone

Matheus Fiore - 17 de julho de 2017

Após o anuncio da HBO sinalizando que restam apenas 13 episódios pela frente, Game Of Thrones deixou seu público na expectativa de uma sétima temporada com mais acontecimentos importantes e menos diálogos internos nos principais núcleos de personagens. O resultado de Dragonstone, primeiro episódio do sétimo ano, porém, é um capítulo mais preocupado em relembrar o público dos últimos acontecimentos e estabelecer o terreno para vindouros acontecimentos do que efetivamente mover as peças do tabuleiro.

Os Lannisters, que hoje estão aos pedaços, protagonizam o mais interessante núcleo do seriado. No diálogo entre os irmãos, por exemplo, notamos como Jamie começa a se incomodar com a ganância de sua irmã, destacando que sua incontrolável vontade de dominar os sete reinos por mil anos de nada adianta, já que o casal perdeu todos os filhos. Cersei, consciente disso, se apega ao orgulho para manter-se firme na luta. Aqui, podemos ressaltar o primeiro sinal importante da temporada: sem um futuro para zelar ou filhos para criar, Cersei agora vê na manutenção de seu trono sua única vontade de viver, o que a tornará uma vilão implacável para aqueles que desejarem o trono de ferro.

Torna ainda mais visível a inconsistência psicológica de Cersei o fato dela ter sido abordada por Euron Greyjoy, personagem que nitidamente possui objetivos próprios que incluem, na melhor das hipóteses, passar a perna nos Lannisters, mas mesmo assim ela mostrar-se aberta ao diálogo no fim da cena. Aqui, o seriado planta a possibilidade de, no futuro, os irmãos Lannister se separarem por conflitos de ideia, algo que vem sendo construído desde que Jamie ajudou Tyrion a escapar, ato que resultou na morte de Tywin.

A montagem da série ganha algum destaque no arco de Samwell, repetindo planos que retratam as atividades cotidianas do personagem para estabelecer sua cansativa e monótona rotina através de takes curtos e com uma caprichada edição de som. O problema é que, diferente da montagem, nem o roteiro nem a atuação de John Bradley-West acompanham esse cansaço psicológico do personagem, que não demonstra nenhum desgosto por seus afazeres. Sam está caminhando cada vez mais para ser uma engrenagem do roteiro para conectar tramas periféricas. Incomoda o fato do roteiro precisar ser tão expositivo ao mostrar o local que possui vidro de dragão e Sam ainda ver a necessidade de dizer que “precisa informar Jon”, sem sutileza alguma para conectar os dois personagens.

Indo para os Stark, Arya e Sansa ganham um merecido destaque. A escolha de expandir a cena da vingança de Arya, que já havia sido parcialmente explicada no fim da sexta temporada, é mais do que uma forma de manter a memória do público fresca, é um lembrete de que a personagem agora possui a implacável missão de vingar seus familiares assassinados. Tal cena, acompanhada pelo momento em que Arya diz estar indo para Porto Real para “assassinar a rainha”, estabelecem a personagem como uma das possíveis responsáveis por um eventual assassinato de Cersei. Já Sansa tem diálogos importantes com Mindinho e Jon Snow, que ressaltam não só sua capacidade de enxergar situações políticas por um escopo mais frio que seu irmão (o que pode e deve leva-los a ter opiniões conflitantes, semelhante ao que ocorre entre os Lannisters), como também destacam sua capacidade de prever tentativas de manipulações.

Tecnicamente, a sétima temporada volta oferecendo menos linguagem artística do que a sexta. Além do roteiro muito expositivo em alguns momentos, o excesso de cenas que se reduzem ao uso de close-ups e plano x contraplano incomodam pela pobreza visual. Utilizar belas locações e construir grandiosos cenários digitalmente é bacana, mas se não utilizados a favor da narrativa, não passam de um portfólio de designers para deleite visual do público. É compreensível que o começo da temporada de uma série com tantos núcleos e personagens se foque mais em um roteiro que move peças sem dar grandes passos, mas se lembrarmos que há, por exemplo, Better Call Saul sendo exibida pela AMC/Netflix, Game Of Thrones acaba se tornando narrativamente pobre por focar demais no texto e pouco na imagem. Uma série de tv, assim como um filme, é um produto artístico audiovisual, e utilizar cores, composição e enquadramentos para contar a história é tão (ou mais) importante que faze-lo pelo texto.

Apostando demais numa possível catarse da chegada de Daenerys à sua “casa”, o episódio inaugural do sétimo ano da série da HBO não chega a decepcionar, mas não impacta nem acrescenta muito à história e, pelo menos, sinaliza que não haverá uma grande guinada para cenas de guerra e ação sem que antes haja o necessário desenvolvimento de todos os núcleos. Vale ressaltar, porém, que dentro da proposta da série, tanto o episódio quanto a temporada podem (e devem) ter diálogos menos mastigados e um trabalho visual (na fotografia e na direção, principalmente), mais expressivos. Como um bom jogo de xadrez, Game of Thrones retorna fazendo seu público se empolgar não por grandes acontecimentos, mas pelas novas possibilidades criadas pela movimentação das peças no tabuleiro. Funciona, mas poderia ser melhor.

 

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