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Holiday

Holiday

A sociedade do luxo e do sexo

Claudio Gabriel - 21 de maio de 2021

Existe um objetivo claro dentro de “Holiday”, filme de estreia da sueca Isabella Eklöf, responsável pelo roteiro de “Border”. Sua intenção é clara em mostrar uma mulher dentro da sociedade do crime. No caso, aqui acompanhamos Sacha (Victoria Carmen Sonne), uma jovem que vive junto de um traficante de drogas. Ao ir com ele uma viagem numa cidade litorânea, ela acaba por tentar viver os luxos e possibilidades da juventude, mas percebe que está em controle completo por parte do homem. A cineasta tenta não traçar uma intenção de fuga desse universo por parte dela, mas sim uma forma de se reencontrar e como sobreviver nesse mundo.

Em certo sentido, a curiosa premissa consegue ser bem desenvolvida durante toda a apresentação dessa localização. O relacionamento, convivendo sempre no passivo agressivo, com momentos de maior amor e carinho (como na primeira vez que estão na cama) até a violência (nas diversas cenas em que ela é agredida), contemplam um desenvolvimento de mundo a qual a protagonista trata tais questões com uma “normalidade”. Por isso, ela convive com momentos de um estupro para, no momento seguinte, sorrir com um presente que ele a dá ou com um encontro com alguns de seus amigos.

O problema é que a grande virada de chave por parte da trama é a relação que Sacha começa a desenvolver com um outro homem que conhece nas redondezas, sozinha. A partir disso, a visão da personagem principal sobre o universo passa de um lado mais atuante e até entendível, para um desenvolvimento frio, passivo de tudo. É como se ela realmente continuasse ali mais pelo luxo que aquela vida traz do que realmente uma ligação emocional que tinha anteriormente. Desse jeito, Eklöf muda também sua forma de filmar, partindo sempre para uma câmera estática, que roda na narrativa quase por completa. Existe um interesse em ter uma visão quase documental e, ao mesmo tempo, subjetiva, pelos olhos dela – fato que Pedro Costa costuma gostar de realizar em suas produções. Contudo, a situação acaba por quase sair de controle por estamos em contato com uma história de violência.

Desse jeito, a cineasta filma as cenas sempre de uma perspectiva do choque. Não em uma intenção de criar aquilo por aquilo mesmo, mas em quase buscar retratar o absurdo no DNA das sequências. Por exemplo, uma primeira cena de estupro acaba por ser retratada de um caminho mais especulativo, sem realmente chegar a mostrar nada, apenas dando indícios (como se Sacha buscasse esconder essa realidade). Contudo, a segunda, que acontece já mais próxima ao fim, Isabella traz um olhar quase sádico da violência retratada. O mesmo acontece com os momentos de brigas em si. Inicialmente, eles sempre são levados a distância pela personagem. Todavia, já a partir do meio, se transformam num elemento frontal para o desenvolvimento dos fatos, como na relação com um dos empregados do namorado.

Em certo sentido, é curioso também acompanharmos uma trama sobre disputa de poderes e o controle das narrativas. Enquanto existe um domínio corporal e psicológico para com a protagonista, ela se vê presa também nas possibilidades de dominar ou controlar quaisquer situação. Contudo, quando passa por isso, se observa como um ser livre até de fazer o que bem entender. Esse fato e essa disputa do casal vai de um caminho agressivo ao longo dos minutos de “Holiday”, chegando ao grande clímax no fim do filme.

Na intenção de explorar esse olhar tão distante, Isabella Eklöf consolida um longa que, em muitos casos, parece não ter um verdadeiro interesse em se engajar pelos acontecimentos e em como eles vão sendo primordiais para uma mudança no olhar dos personagens para a narrativa. Desse jeito, ela transforma “Holiday” em uma tentativa de conto de vingança feminista – como feito recentemente em “Revenge” -, mas que não consegue ter impacto por parecer uma produção sem verdadeira vontade de explorar os meandros da relação. A diretora parece achar que tão longe é tão perto, porém leva o telespectador a estar mais distante ainda.

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