Listas e Especiais

Os piores filmes de 2019

Nada é tão ruim que não possa piorar um pouquinho

Redação - 26 de dezembro de 2019

A frase acima, do ator brasileiro Paulo César Pereio, resume o sentimento dessa lista. Todos os anos somos “brindados” com filmes ruins. E sempre que achamos ter encontrado o fundo do poço, descobrimos lá um alçapão. É onde estamos agora: nos piores filmes de 2019.

Não há muito mais o que dizer. Fique com a seleção da nossa equipe de filmes para não ver neste fim de ano.

10) Rambo: Até o Fim (Rambo: Last Blood)

Sylvester Stallone é, no mínimo, uma figura paradoxal. Se é verdade que ele não recebe da crítica especializada nem metade do crédito que merece como ator, diretor e roteirista, também é inegável que o próprio “Sly” colabora na construção dessa figura brucutu sem talento. “Até o Fim”, conclusão da franquia Rambo, prova isso.

Ao mesmo tempo em que Stallone ajudou a dar forma num dos personagens mais icônicos do Cinema dos Estados Unidos no século 20 (a despeito das sequências, o primeiro “Rambo” é espetacular), ele está diretamente ligado à destruição desse ícone em quatro obras, pra dizer o mínimo, problemática.

“Até o Fim” não foi o pior já feito com o ex-boina verda John Rambo (é difícil superar a aberração de “Rambo 3”), mas o roteiro fraco, a direção sem criatividade e as atuações sofríveis não deixam dúvidas: o personagem já estava fazendo hora extra.

9) It: Capítulo Dois (It Chapter Two)

O “It”, lançado em 2017, bateu recordes de bilheteria por unir elementos atrativos tanto para os fãs do terror quanto para o público mais casual. A continuação, de Andy Muschiatti, era inevitável, não só pelo fato de o filme contar apenas metade da história criada por Stephen King, mas também pelo estrondoso sucesso de bilheteria.

Mas o que vimos nessa continuação é uma tragédia cinematográfica. Muschiatti, se mostra um diretor pouco inventivo em termos de visual e de conteúdo, sabotado por uma montagem que torna a obra enfadonha e arrastada. “It: Capítulo 2” acompanha os mesmos personagens durante sua vida adulta, mostrando como eles não conseguiram superar muitos de seus traumas do passado. Muschiatti nos joga em situações que ocorrem praticamente de forma circular. Não há uma mínima variedade na forma de utilizar o gênero, fazendo com que o longa se limite a ficar, por mais de metade de sua duração, repetindo ideias primárias.

 

8) O Silêncio (The Silence)

Bem similar ao interessante “Um Lugar Silêncioso” e ao terrível “Birdbox”, “O Silêncio” acompanha a típica história de sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico, onde seres de uma caverna antiga são guiados pelo som e matam tudo aquilo que fizer barulho.

Acompanhamos a trajetória de uma família que busca se isolar e sobreviver em algum lugar onde os terríveis monstros não possam encontrá-los. O problema é que nem mesmo os realizadores parecem saber o que fazer com a trama. O diretor John R. Leonetti apresenta apenas situações repetitivas, com os personagens cercados pelos bichos e precisando encontrar uma maneira de escapar sem barulho.

Qualquer tentativa de aprofundamento psicológico ou emocional dos personagens é ignorada, bem como o uso da relação entre o silêncio e a sobrevivência como alguma metáfora para as relações familiares. “Silêncio” é um “Doritos”, feito sob encomenda apenas para promover a Netflix em cima dos sucessos de “Um Lugar Silencioso” e “Birdbox”.

7) Star Wars: A Ascensão Skywalker (The Rise of Skywalker)

Após o mais corajoso filme de toda a saga “Star Wars”, o fantástico “Os Últimos Jedi”, de Rian Johnson, a Disney decide trazer J.J. Abrams de volta. O resultado não poderia ser pior. Assim como “O Despertar da Força”, “Ascensão Skywalker” se ancora unicamente na nostalgia e na reafirmação dos mitos galáticos da cinesérie.

Para isso, o filme é sabotado não só por um roteiro assustadoramente ruim, que chega a utilizar o mesmo gatilho dramático cinco vezes, como também por uma construção imagética risível. O ato final é todo filmado com um desinteresse que espanta, que faz a batalha mais importante da história daquele universo parecer um teatro escolar feito com cartolina e caneta pilot. “Ascensão Skywalker” é um deserto de imagens e ideias, feito sob encomenda para incomodar o mínimo de fãs possível, o mais covarde e pobre capítulo da série criada por George Lucas.

 

6) Polar

Mise-en-scène, termo que vem do teatro, é, resumidamente, a construção material e sensorial de um filme. Num bom filme, os elementos da mise-en-scène se integram harmoniosamente para comunicar conteúdos e sentimentos, muitas vezes sendo eles a ficarem na mente do público anos depois de seu lançamento.

Vendo “Polar”, a gente imagina que o diretor sueco Jonas Åkerlund, realizador de muitos videoclipes e de pelo menos um filme que talvez algum dia mereça ser visto (Lord of Chaos, estrelado por Rory Culkin, tão bom quanto o irmão McCawley), quis inventar a mise-en-scène do tipo videoclipe gigante, ou uma colagem de videoclipes, ou colagem de filmes de que ele gostou e resolveu homenagear, ou qualquer outra coisa, contanto que seja colagem. O que quer que ele tenha pretendido, esse foi o resultado. Resta como consolo imaginar que o divo Mads Mikkelsen pagou suas contas mais urgentes com o filme e terá um Natal menos apertado.

 

5) Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile)

Vá lá, uma coisa tem que ser dita: pensar em uma abordagem romântica da vida de um serial killer é até uma ideia interessante. Se o relacionamento amoroso de um assassino em massa é o foco de um filme, a revelação da sua crueldade pode ser uma surpresa impactante.

No entanto, se o filme é sobre um dos assassinos mais famosos da história, é difícil que qualquer um se surpreenda quando a sua crueldade é revelada. Mais difícil ainda é entender como alguém achou que seria uma boa ideia usar isso como plot twist.

No fim das contas, a única suspresa que “A Irresistível Face do Mal” traz é o poder de transformar um filme sobre um serial killer em algo tão apático.

 

4) X-Men: Fênix Negra (Dark Phoenix)

O universo “mutante” da Fox nunca foi um primor de coerência. A piada do primeiro Deadpool sobre o Professor Xavier (“Stewart ou McAvoy?”) representa bem tamanha bagunça.

Ainda assim, a saga iniciada em 2000 com “X-Men”, que de certa forma revitalizou o gênero de super herói após o trágico “Batman & Robin” e mostrou haver uma demanda reprimida que veio a ser suprida com a trilogia “Cavaleiro das Trevas” e o próprio MCU, merecia um desfecho, no mínimo, aceitável. “Fênix Negra” passa longe disso e ficará para a posteridade, ao contrário, como um dos piores filmes da franquia, lado a lado com “Origens: Wolverine” e “Apocalipse”.

A atuação pedestre de Sophie Turner, a direção mambembe de Simon Kinberg (um roteirista sofrível) e os efeitos digitais dignos de projeto de conclusão de curso de férias não agregam nada à mitologia dos X-Men e são, de fato, uma tortura.

 

3) Green Book: O Guia

Pode-se resumir o argumento de “Green Book” com a seguinte frase: “Eu não sou racista, eu até tenho um amigo negro”. Como muita gente branca pensa não ser racista pelos mesmos motivos, o filme passou como sendo um libelo anti-racista e por isso arrebatou o Oscar em Hollywood este ano.

Grande engodo: “Green Book” se junta a outras bobagens do Cinema estadunidense que escondem seu racismo atrás de roteiros fofos, com finais conciliadores. O público caiu na armadilha e louvou a história do carcamano ignorante que ajuda o negro alienado a ser um negro de verdade.

Mesmo com a família do pianista Don Shirley desmentindo o comportamento esnobe do personagem, o engodo passou batido e ajudou a vender mais uma vez a ideia de que os Estados Unidos não são um país racista, e que a amizade vence o preconceito etc. etc. No fim, só um aprendizado: precisamos de mais filmes como “Moonlight”.

2) O Rei Leão (The Lion King)

É comum que as pessoas vejam a arte realista como uma forma de evolução em relação a criações menos literais, como o cartoon. Esse equívoco não é exclusivo do cinema: no videogame, por exemplo, é comum ver o grau de fidelidade à realidade ser utilizado como uma métrica de quão bom é um jogo.

Se “O Rei Leão” nasceu como uma obra que endossaria esse tipo de pensamento, a sua existência acaba provando o argumento contrário. O realismo, em vez de aprimorar o filme, incinera qualquer apelo emocional que a versão de 1994 trazia.

Com leões tão inexpressivos que parecem ter sido vítimas de sessões muito exageradas de botox, essa nova tentativa de blockbuster da Disney em nada faz jus ao filme original. Se a realidade é tão insossa quanto “O Rei Leão” faz parecer, só nos resta agradecer a ficção.

 

 

1) 1964: O Brasil Entre Armas e Livros

Retrato “cuspido e escarrado” do bolsonarismo mais xucro, que acredita em terra plana e microchips em vacinas, “1964” é um compilado de mentiras, como o uso de uma foto de Sebastião Salgado da década de 1980 para “ilustrar” a formação da Guerrilha do Araguaia 20 anos antes.

Esse contorcionismo para defender a ditadura militar merece uma ressalva. Embora seja até natural comparar “1964” ao cinema de propaganda nazista de Leni Riefenstahl, essa comparação não é justa. O Cinema de Riefenstahl até hoje assusta pela sua competência técnica. “O Triunfo da Vontade” consegue, sozinho, vender a imagem de uma Alemanha soberana e de um Hitler ao mesmo tempo forte e doce, um enviado de Deus para liderar uma Nação.

“1964” parece uma reportagem sensacionalista daqueles programas religiosos que passam de madrugada na TV. Pra acreditar no que ele diz, bem, só acreditando em terra plana e microchips em vacinas.