Os melhores filmes de 2018

Os melhores filmes de 2018

Filmes escolhidos pelos críticos do Plano Aberto

Redação - 28 de dezembro de 2018

2018 foi um bom ano para o Cinema. A bem da verdade, se se souber procurar, todo ano rende. Mas não se desespere: o Plano Aberto faz isso por você! Depois de doze meses assistindo a filmes como se não houvesse amanhã, chegamos a esta lista com os melhores filmes de 2018. Cada membro da equipe teve direito a apenas um voto. Se o seu filme favorito do ano não estiver aqui, diga pra gente nos comentários!

Enquanto isso, separe um prato grande, encha com aquelas rabanadas que sobraram da ceia de Natal e espere 2019 do jeito certo: com Cinema.

Roma, indicação de Matheus Fiore

Alfonso Cuarón, o diretor de “E Sua Mãe Também”, “Filhos da Esperança” e “Gravidade” retorna ao México dos anos 70 para se encontrar com a própria infância. Em “Roma”, porém, a perspectiva adotada é a de Cleo, uma empregada que cuida do lar de uma família de classe alta no bairro de Roma.

O filme estuda toda a sociedade mexicana daquele período, vasculhando cada cantinho para tecer comentários sobre classes sociais, política, relacionamentos e poder. É uma obra que tenta, pela ponte da ficção, chegar ao mito formador da sociedade mexicana. Destaque para a belíssima fotografia em preto e branco, assinada pelo próprio Cuarón, e para o roteiro, que consegue amarrar inúmeros assuntos sem que haja sequer um diálogo fora do lugar. Cuarón estabelece um mundo à beira do colapso e coloca sua protagonista à deriva, usando as mais de duas horas de projeção para mostrar como uma mudança irreparável na ordem das coisas conduz a um novo (?) começo.

 

Melhores filmes 2018 Plano Aberto BuscandoBuscando… (Searching), indicação de Gustavo Pereira

Que belo filme! “Buscando…” não fez barulho em lugar nenhum, provavelmente passará esquecido por toda a temporada de premiações e certamente não renderá discussões acaloradas na mesa do boteco. Colocá-lo nessa lista é, de certa forma, um arremedo de reparação histórica exatamente por isso: para que mais pessoas saibam da mera existência dele.

“Buscando…” não é bom apenas pelo formato em que sua história é contada (todo capturado por telas de aplicativos de comunicação como Skype e FaceTime), mas por ser um tremendo suspense, estruturado de forma quase perfeita. O espectador chega ao ato final sem ter a menor ideia do desfecho da trama, leva uma pancada na cabeça com a última reviravolta e, com todas as cartas na mesa, se pergunta “nossa, como eu deixei isso passar? Estava na minha cara o tempo todo!”, o melhor elogio que um suspense pode receber.

 

Ilha dos Cachorros (Isle of Dogs), indicação de Nathan Amaral

Wes Anderson é, ao mesmo tempo, um poeta das relações humanas e do fantástico. Suas demarcações estéticas são inesquecíveis e artesanais ao ponto de transformar uma constelação de atores em caricaturas completas, elevando-os à um estado animesco (se me vale o neologismo). É o caso de “O Grande Hotel Budapeste”, “Moonrise Kingdom” e “Os Excêntricos Tenenbaums”. Com seus personagens de carne e osso, sob a luz da simetria fotográfica, da paleta de cores impecável e da trilha sonora embebida das maiores expressões da contra-cultura pop o diretor consegue dissecar as sombras da natureza humana como poucos poderiam.

É no eufemismo lúdico que se encontra a verdade de Wes Anderson.

Uma inversão fantástica acontece em Ilha dos Cachorros. Assim como em “O Fantástico Sr. Raposo” (2009), é nas rédeas de animações que Wes Anderson parece se despir dos eufemismos e passa a mais dura das realidades. É nos personagens de carne de tinta de lápis e ossos de massinha dos seres vivos que habitam a Megasaki do filme que nos preparamos para um ensaio sincero e aberto sobre o poder da propaganda política e das suas consequências nocivas. Anderson usa a estética da animação e da cinematografia japonesa, não de forma acidental, para nos alertar sobre as belezas estéticas da propaganda: onde a natureza humana precisa ser purificada pelo bem maior.

O único custo é a sensibilidade.

 

Ponto Cego (Blindspotting), indicação de Mario Martins

Desde a cena inicial, o filme de estréia do diretor Carlos López Estrada, Ponto Cego, mostra que falará sobre contrastes. Um mesmo lugar filmado de duas posições diferentes, gêneros musicais distintos se complementando e disputando lugar entre si, pontos de vista sempre misturados e quase parecidos. Extremos da sociedade que de tanto diferirem, às vezes caminham juntos, traçando uma ligação fantástica entre o título do filme e o filme em si.

Há pelo menos três cenas de Ponto Cego que são marcantes por sua profundidade psicológica. Personagens frágeis, cada um com sua história de sobrevivência, lidando com as consequências de suas respectivas ações. Apesar de ser carregado de culpa, busca por redenção, oportunidades perdidas e outras desperdiçadas, o filme ainda encontra espaço para fazer humor inteligente e fazer um exótico uso de metalinguagem para ajudar na imersão de cenas, seja de forma visual ou sonora.

 

Projeto Flórida (The Florida Project), indicação de Ana Gerhardt

“Projeto Flórida”, de Sean Baker, foi lançado no Brasil no início de 2018, mas é impossível se esquecer desse filme corajoso, lindamente filmado com as cores vibrantes e alegres da infância em Orlando, na Flórida, para retratar a mais degradante miséria num país que prometeu a seus cidadãos (aos brancos, pelo menos) uma vida de paz e prosperidade.

A estrutura complexa do filme, discutida no Plano Aberto, se presta de forma perfeita para descrever o sacrifício de uma das mais devotadas mães da ficção contemporânea. Mas Sean Baker não entrega fácil ao espectador a compaixão por duas vidas desamparadas no país mais rico do mundo, nem em termos de forma, nem de conteúdo. Talvez seja porque o diretor não queira gente preconceituosa apreciando seu filme. Ou talvez ele deseje tornar o mundo um lugar menos preconceituoso.

Projeto Flórida está entre os melhores filmes do ano por recusar conteúdos óbvios e escapar das saídas fáceis de estrutura narrativa e de cinematografia para denunciar a crueldade de um mundo que segrega seres humanos e mantém a desigualdade de chances. E essas escolhas o tornam um dos mais importantes filmes do ano.

 

Missão: Impossível – Efeito Fallout (Mission: Impossible – Fallout), indicação de Yasmine Evaristo

Encontrar filme de ação que não seja “mais do mesmo” não é fácil. Porém, desde “Missão: Impossível – Nação Secreta”, Christopher McQuarrie mostra sua capacidade de ir além dos clichês de explosões demasiadas, mocinhos vazios e vilões capengas, típicos do gênero.

Em “Efeito Fallout” o agente da IMF, Ethan Hunt, se encontra envolvido em atividades diretamente ligadas ao filme anterior. Com sequências de ação muito bem elaboradas, a trama valoriza os filmes anteriores, trazendo pequenos elementos de todos eles. Ethan, mais uma vez “peca” ao tentar ser bom demais e salvar a todos, conseguindo o efeito contrário. Os últimos filmes da franquia são admiráveis, pois permitem que seu protagonista, mesmo envolvido em cenas de ação mirabolantes, envelheça (amadureça) suas ideias e perspectivas, humanizando ao ponto de permitir que ele falhe.

 

Trama Fantasma (Phantom Thread), indicação de Wallace Andrioli

Paul Thomas Anderson trafega do clássico (“Rebecca” e “Um Corpo que Cai”, de Alfred Hitchcock) ao contemporâneo (“mãe!”, de Darren Aronofsky) para tentar entender os motores de controle e manipulação de uma relação amorosa. Nesse processo, cria uma história movida por uma inebriante pulsão de morte. Para Anderson, amar é também matar e morrer, ainda que aos poucos, metafórica ou literalmente.

Autor de um cinema habitualmente dedicado a relações humanas de difícil decifração, o diretor e roteirista adiciona camadas a seus protagonistas, Reynolds (Daniel Day-Lewis) e Alma (Vicky Krieps), que vedam qualquer interpretação apressada de seus sentimentos um pelo outro. No fim, eles realmente descobrem o amor por meio da crueldade mútua, sujeitos quebrados que são, loucos em alguma medida, como tantos que povoam a filmografia de Anderson.

 

Em Chamas (Burning), indicação de Marina Pais

Adaptar uma obra literária para as telonas é mais difícil do que parece. Por melhor que o material seja, o fato de serem duas mídias com linguagens completamente diferentes dificulta o processo de transcrição. Em se tratando de um conto de Haruki Murakami, que tem um estilo de escrita bastante introspectivo, o desafio se torna ainda maior.

No entanto, “Em Chamas” consegue executar essa tarefa com maestria. A adaptação cinematográfica de Chang-dong Lee consegue elevar a mensagem de “Barn Burning”, conto no qual se inspirou, abordando os conflitos existentes em uma sociedade marcada por uma mentalidade capitalista que se recusa a dar espaço ao afeto. Trazendo a importância da busca por significado quando tudo é considerado descartável, Em chamas é um filme que permanece com o espectador por muito mais tempo que as suas horas de projeção.

 

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