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Deuses Americanos 2×04 – A Melhor História Já Contada

Deuses Americanos 2×04 – A Melhor História Já Contada

“Deuses são reais se acredita neles” na veia

Gustavo Pereira - 1 de abril de 2019

Uma das marcas registradas na primeira temporada de “Deuses Americanos” era a origem de cada Velho Deus na América. “A Melhor História Já Contada” resgata isso, dessa vez com um Novo Deus. E nessa história-dentro-da-história, sintetiza o tom do episódio.

Deuses Americanos American Gods Neil Gaiman temporada 2 A Melhor História Já Contada The Greatest Story Ever Told

A ideia de conceitos “mundanos” como tecnologia e dinheiro serem sacralizados pela idolatria que recebem das pessoas é fascinante, mas nunca havia sido representada de forma objetiva. Como essa relação mudou e meras ferramentas se tornaram os senhores de nossas vidas? Humanizar e personalizar esta dinâmica é interessante para dar peso a elas, além de demonstrar o que os Novos Deuses podem – e não podem – fazer.

O jovem que alternava aulas de piano com partidas de Pong no seu Atari refletem o gradual processo de isolamento ao qual a sociedade se submeteu da segunda metade do século 20 pra cá. Ao abrir mão de relacionamentos com outras pessoas para se relacionar com máquinas, naturalmente as máquinas ganham status de pessoas. Quando o jovem programa seu computador para compor à moda de Bach, não está depositando nele uma fé diferente do que aquela que um católico dedica quando reza para alcançar uma graça. Os deuses são reflexos de seus fiéis.

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Isso também aparece em Ruby, outra personagem de apoio de “A Melhor História Já Contada”. Se o jovem crê numa máquina capaz de substituir uma pessoa na capacidade de criar, onde ela seria supostamente insubstituível, Ruby mostra que a crença num deus onisciente, uma fé bovina num deus que “sabe o que faz”, impossibilita qualquer mudança. Enquanto um busca mudança, outra busca aceitação. Dessa forma, um deus vira agente catalisador de mudanças e o outro não. Como diz a frase de Odin que virou meme na internet, “deuses são reais se acredita neles”.

A forma como “A Melhor História Já Contada” trabalha esse conceito com diferentes personagens é louvável. Num diálogo que diz muito sobre Nancy, Bilquis e Tot, os três discutem a melhor forma de se envolver numa guerra: lutando, sobrevivendo ou se abstendo. Nancy justifica sua posição exatamente pela crença de seus fiéis; Tot, pelo conhecimento adquirido com os mortos; Bilquis, no meio deste debate, vê em Ruby a dura verdade de Nancy. “A ferramenta de controle mais poderosa do opressor é a mente do oprimido”.

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E, ao mesmo tempo que “deuses são reais se acredita neles”, também se tornam obsoletos quando não atendem mais aos anseios de seus fiéis. E a maior limitação dos Novos Deuses é que sua fonte de poder não vem de uma origem litúrgica, mas de resultados práticos. Um cristão jamais deixará de reverenciar Jesus, mas ninguém considera blasfêmia trocar de sistema operacional (embora eu ainda use o Windows 7).

Leia mais sobre “Deuses Americanos” aqui.

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