Neirud

Neirud

Imagens que faltam

Wallace Andrioli - 18 de junho de 2023

Neirud é um filme construído a partir da enunciação da falta de imagens. A diretora Fernanda Faya, em seu primeiro longa-metragem, tenta fazer da busca por esses registros ausentes, que possibilitariam contar a história da personagem-título, uma narrativa de investigação, com sucessivas descobertas reveladoras também de uma série de aspectos da sociedade brasileira. Do micro ao macro, sem jamais perder de vista a dimensão íntima, já que Élida Neirud foi uma figura presente na vida familiar de Fernanda. No entanto, o documentário falha em quase todos os seus intentos.

Há, sobretudo, uma grande dificuldade de tornar a busca pela história de Neirud realmente interessante. A lógica investigativa nunca convence totalmente e os fios puxados pela diretora não levam a grandes avanços nesse sentido. Fernanda demonstra não saber muito bem o que fazer com essas lacunas e tenta encontrar formas de preenchê-las, mas todas são muito ruins. De um uso meramente ilustrativo de imagens de arquivo a encenações que nada criam, passando por abstrações visuais aleatórias e, finalmente, pelo uso raso e bobo do contexto da ditadura militar como legitimador de uma suposta resistência, ausente do horizonte das personagens biografadas – ao menos até onde o filme caminha na apresentação delas.

Além disso, Neirud lida com os temas do racismo, do machismo e da homofobia de maneira anódina, pois nada dito ou mostrado vai além do que qualquer pessoa minimamente conectada à realidade do país sabe de cor. Passa-se por eles de maneira meramente protocolar. A novidade está claro, no universo da luta livre circense de mulheres, mas aqui, novamente, Fernanda faz muito pouco com o material escasso (e instigante) que tem. Ela prefere se entregar à narrativa documentária em primeira pessoa tão presente no cinema contemporâneo, já tornada quase um cacoete, realizando um filme mais sobre si mesma e sua própria família, no qual a disposição crítica é bastante limitada, do que outro que se proponha a um tratamento cuidadoso com as imagens de arquivo e sofisticado no olhar para personagens e temas complexos.

Se nada de realmente novo surge da abordagem de Neirud, o que claramente é um problema quando se está diante de um filme que quer funcionar segundo uma lógica de descoberta e revelação, ele sobrevive no fim das contas por ser simpático, bem intencionado e ao menos ter o mérito de colocar na tela figuras como a personagem-título e Nely (avó de Fernanda), cujas trajetórias e relação são em si fascinantes.

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