“The Secret of Spoon” é precedido por “The Bone Orchard”. Para ler a crítica do primeiro episódio de Deuses Americanos, clique aqui.
Para os leitores de Neil Gaiman, este episódio de Deuses Americanos é um presente: Anansi, que já foi personagem-chave de outro livro do autor, teve provavelmente aquela que será uma das melhores apresentações da temporada. Assim como em “The Bone Orchard”, “The Secret of Spoon” reconta a chegada de um Velho Deus aos Estados Unidos.
O que mais uma vez chama a atenção para o trabalho de Jo Willems é a forma como as cores servem de reforço narrativo inconsciente, ratificando na mente do espectador a mensagem que os personagens estão passando. Enquanto um escravo recém-cativo ora por liberdade, Anansi quer ver o circo pegar fogo. O “novo mundo” não merece piedade, mas subversão.
Atuando na mesma zona cromática, o deus africano interpretado por Orlando Jones é inquestionavelmente o protagonista da cena, porque ele soube manipulá-la para que lhe favorecesse. Exatamente a mesma lição que ele ensina àqueles que estavam lhe pedindo ajuda: não aceitar o destino de cabeça baixa. A trilha de jazz, obviamente deslocada para o ano de 1697, enfatiza que o conhecimento de Nancy não está preso às barreiras do tempo.
Se este não é um episódio com tantos acontecimentos quanto o anterior (algo normal quando já conhecemos os protagonistas e a dinâmica entre eles está estabelecida), “The Secret of Spoon” mantém o trabalho sólido da criação de identidade para cada personagem, emoção e atitude.
Tentando se recuperar da surra que levou dos capangas de Technical Boy, Shadow vai para o seu quarto e , durante seu banho, uma trilha pesada tocada por um violoncelo é complementada por efeitos de sonoplastia fortes e estacados (quando ele tira sua aliança, é como se um pedregulho fosse atirado do alto de uma ponte em um rio). A engenharia de som se encarrega de dar ao protagonista de Deuses Americanos um peso dramático que percebemos ser grande demais para que ele o carregue sem comprometer a própria sanidade.
Wednesday é enriquecido pelo roteiro. Seu desprezo por celulares, o saudosismo por formas arcaicas de comunicação como o fax, o som do carro tocando Creedence Clearwater e Bob Dylan (preste atenção ao verso destacado e à tarefa que Shadow e Wednesday estão indo realizar) e uma frase reveladora: “melhor estar morto do que ser esquecido”.
O grande acontecimento do episódio faz uso principalmente de analogias visuais para mostrar o grau de desintegração de Czernobog (Peter Stormare) e as Irmãs Zorya: enquanto estas estão fragilizadas, aquele está nervoso.
O final, com o consagrado “gancho” para deixar a audiência ansiosa pelo próximo episódio, é praticamente uma metalinguagem em referência à outra divindade apresentada anteriormente (uma ótima participação de Gilliam Anderson). Serve mais para manter Czernobog na tela do que para criar expectativa.
“The Secret of Spoon” manteve o alto padrão estabelecido no episódio-piloto. É possível que a Starz tenha mesmo acertado a mão.