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Melhores Álbuns de 2021

Melhores Álbuns de 2021

Os 20 álbuns favoritos da nossa redação em 2021.

Redação - 15 de janeiro de 2022

2021, uma segunda e prolongada parte de 2020, trouxe com sua chegada esperanças renovadas e aflições ainda mais agudas. Dualidade bem representada nos discos eleitos pela nossa redação como as obsessões do último ano: de sonhos partidos às pistas imaginárias, os 20 álbuns mais lembrados pela equipe do Plano Aberto desenham um ano complexo, mas repleto de boa música.

1. Baile – FBC, VHOOR

Após lançar um dos mais inventivos EPs do ano (Outro Rolê), o rapper mineiro FBC continua sua festa em Baile, uma bela homenagem à história do Miami Bass no Brasil. Apesar de resgatar as características batidas do funk dos anos 80 e 90, o disco não se fecha como uma simples obra saudosista, mas expande e atualiza as sonoridades de maneira criativa. A “Ópera Miami” conduzida por ele e pelo beatmaker VHOOR usa da teatralidade para narrar o cotidiano de um personagem e da vida social e cultural da comunidade em que ele vive. Em menos de meia hora, FBC e convidados cantam sobre diversão, farra, violência policial, fé, crime, moda, amor, tesão, traição, desilusões — tudo junto e misturado, na bagunça que é a vida. O espaço do baile aqui extrapola o pano de fundo de tensionamentos sociais e políticos e funciona como um canal para a vazão de diferentes emoções e de pulsões energéticas. Do baile partem paixões e rivalidades, alegrias e tristezas, e, principalmente, potências transformadoras como as que, ao longo das décadas, seguem reinventando o funk sem jamais esgotá-lo.

2. Delta Estácio Blues – Juçara Marçal 

O segundo álbum solo da vocalista do Metá Metá explode ideias e sons há muito esmiuçados em uma carreira de experimentação. Com produção do também integrante da Metá Metá Kiko Dinucci, Delta Estácio Blues incursiona Juçara por caminhos eletrônicos e sintetizados, uma roupagem apocalíptica e metálica a uma tapeçaria melódica, que tem na voz doce da carioca uma âncora dentre a destruição.

3. Donda – Kanye West

Em sua eterna busca por uma existência plena, Kanye exerce novamente sua fé em Donda. Se em Jesus is King, o artista estava muito preso às raízes do gospel e dependente demais do coral do Sunday Service, aqui sentimos o artista se expressar de maneira mais livre e autoral. Ye segue seu caminho ao lado de Deus e traz consigo suas raízes na música negra. Há momentos espirituosos e calmos que puxam da sonoridade gospel como em Moon e Come to Life, mas há também passagens mais intensas e agressivas oriundas do hip hop como no trap de Off the Grid. Há inclusive espaço para os característicos samples de West, como em Believe What I Say, um dos pontos altos do álbum com trecho de Doo Wop de Ms. Lauryn Hill. Donda é uma cacofonia composta de muitas faixas e com uma duração extensa, um álbum que não parece possuir um fio condutor para sua narrativa e, por incrível que pareça, é isso que o torna especial. Não é um álbum conceitual de Kanye, mas sim um álbum expressivo, onde o artista demonstra livremente sua fé através de coisas que ele acredita: Deus, música, parceiros e, acima de tudo, sua mãe, que intitula este projeto. Donda é um reflexo da mente confusa e megalomaníaca de um homem que segue buscando se expressar de forma relevante no século XXI.

4. Malandro 5 Estrelas – Índio da Cuíca

Músico de palco histórico que tocou com nomes do quilate de Alcione e Jair Rodrigues, Índio da Cuíca, através de seu primeiro disco solo, assume a frente do palco e se prova um dos profissionais mais virtuosos em atividade no que é relativo à sonoridade do samba. Sua maestria, segurança e fluidez com a cuíca podem ser comparáveis, por exemplo, às que um Baden Powell tinha com o violão. Somados a isto, os arranjos e a inserção de outros instrumentos tradicionais do samba unem-se a composições que evocam a figura do malandro, a religiosidade afro-brasileira, os amores duradouros e o próprio instrumento da cuíca – todas cantadas por Índio com sua voz própria, que guia a sonoridade de Malandro 5 Estrelas por um caminho que pode ser rudimentarmente descrito como algo entre o onírico, o de uma doçura inocente e o de uma memória tenra, como a das rodas de samba em fundo de quintal. Mesmo com faixas mais experimentais, que traçam intertextualidade com outras sonoridades (“Baile do Bambu”, com o funk), o conjunto aqui está mais próximo de discos lançados entre o final dos anos 1960 (como o autointitulado dos Originais do Samba, de 1969) e a segunda metade da década seguinte (“Pilão + Raça = Elza”, álbum de Elza Soares que data de 1977, é um bom exemplo) do que da sonoridade contemporânea que o samba possui, ao menos, dentro da hegemonia da indústria fonográfica atual – não por acaso, trata-se de um lançamento realizado por meio de um selo independente. No entanto, em momento algum Índio da Cuíca, ou a produção do disco como um todo, parecem estar preocupados em emular um ou outro estilo em específico (tanto que o ar onírico anteriormente mencionado é algo que dificilmente encontra paralelo em referenciais passados): tudo flui natural e espontaneamente, como que jorrando do coração de um sambista experiente e legítimo que é, ele mesmo, manifestação orgânica do samba propriamente dito.

5. Batidão Tropical – Pabllo Vittar

Voltando sua atenção ao regionalismo, Pabllo e o time da Brabo Music se reencontram com a originalidade que a Maranhense trouxe ao pop nacional. Dentre regravações de Companhia do Calypso e Ravelly, Pabllo Vittar brilha ao tomar para si própria as referências que a levaram ao mundo: a vibração da música que formou suas raízes e o futurismo brasileiro que a transformou num fenômeno global.

6. CALL ME IF YOU GET LOST – Tyler the Creator  

Tyler parece ter atingido seu ápice desde o lançamento de Goblin (2011). Call Me If You Get Lost representa o auge do rapper tanto como MC quanto como produtor e arranjador, trazendo um álbum que se âncora menos em samples do que os anteriores e mais nos arranjos originais. Tudo isso unido em um trabalho que reflete suas questões pessoais (e esse talvez seja o mais pessoal de todos os álbuns do artista), justamente em um momento no qual cobram tanto que ele se posicione sobre assuntos sociais e políticos (algo que ele desdenha sem medo em faixas como Manifesto. Destaque para Sweet / I Thought You Wanted to Dance, uma das músicas mais únicas de sua carreira, e talvez a melhor.

7. The Turning Wheel – Spellling

O pseudônimo de Chrystia “Tia” Cabral sugere uma ligação à linguagem, mas seu real significado é místico. Spelling faz de The Turning Wheel um feitiço sonoro, transforma a dúvida e sofrimentos humanos em vibrações, e cada faixa, em um ato de mágica. Mesmo que um menos experimental e mais grandioso que seus últimos dois lançamentos, The Turning Wheel a consolida como uma inventora musical, moldando seus temas à imagem dos universos que cria.

8. To See the Next Part of the Dream – Parannoul 

To See The Next Part of the Dream é uma viagem anacrônica e consciente pelo inconsciente. Há uma sensação confusa de deslocamento temporal que permeia todo o disco. Sensação essa que está atrelada ao onirismo da narrativa estabelecida. O disco de Paronnoul é uma viagem insólita pelas memórias e sonhos do artista, que se autointitula como um perdedor ativo. O que torna To See The Next Part of the Dream tão especial é como esta jornada é constituída: banhada por uma nostalgia que nos impede de distinguir a temporalidade deste som. As escolhas de gênero (shoegaze, emo, bedroom pop) conversam com este anacronismo, enquanto as inserções pontuais de ruídos como o toque de um despertador dão a sensação de busca pelo despertar. O álbum é composto por um conflito muito claro entre a sensação de juventude perdida e a busca por aceitação deste processo de amadurecimento. Temáticas que permeiam o niilismo existencial e a solidão no ambiente urbano compõem uma atmosfera extremamente relacionável, mesmo que as letras sejam extremamente pessoais e melancólicas. To See The Next Part of the Dream é um disco duro, recheado com muita frustração e lamento, mas que sempre busca inserir notas positivas para um futuro melhor, que, segundo o próprio Parannoul, virá. O álbum é uma ótima companhia para expurgar nossos piores sentimentos e um belo espaço de conforto. Ao se colocar como um no meio da multidão, Parannoul identifica e valoriza o mundano, convidando quem ouvi-lo a se sentir confortável, mesmo que os últimos tempos sejam de extremo incômodo.

9. ROCINHA – Mbé 

10. Sensational – Erika de Casier

Top 20 e Menções Honrosas

Diretoria – Tasha & Tracie

Tasha & Tracie rimam como se o tempo do freestyle estivesse acabando, e de repente, ganham mais tempo, e controlam ele com muito drible e destreza. Talvez eu me arrisque um pouco aqui, mas poucas coisas soaram tão 2021 como a lírica dessas duas minas, não?

SOUR – Olivia Rodrigo

Com uma visão destemida e muito dramática do que significa ser uma adolescente, o álbum de estreia da cantora Olivia Rodrigo é o resultado de uma era em que a relevância do TikTok no mercado da música é crucial para a criação de um público, servindo como uma plataforma para novos artistas exibirem seus talentos. Com apenas 17 anos, Olivia escreveu uma canção (drivers license) que foi sucesso instantâneo e esteve por semanas no topo das mais ouvidas no começo de 2021, tendo em pouco tempo se tornado um fenômeno da internet.

Conhecida até então por ter estrelado a série musical de High School Musical, da Disney, Olivia refez a própria imagem por meio de outras redes sociais, junto a uma voz e personalidade carismática e conseguiu alcançar um público próprio e devotado, que não se atém apenas ao público juvenil, pois as emoções que ela retrata não se restringem somente aos adolescentes.

Inúmeros artistas já escreveram canções sobre amores fracassados, inclusive Taylor Swift, uma das principais inspirações para Olivia e cujo gênero que canta é muito similar ao dela. O uso das emoções exageradas, da repetição do tema amoroso (que soa como: “vou falar do que me faz mal até remover completamente”), além dessa percepção de que as coisas não duram para sempre é o que faz o seu álbum de estreia tão bom de se acompanhar. Há um relato não apenas da melancolia causada por uma paixão não correspondida ou um término de um primeiro amor, como também o de uma pessoa buscando identidade própria em suas criações, como bem escreve na letra de “jealousy, jealousy” (“I wanna be you so bad, and I don’t even know you”). Mais do que isso: nas entrelinhas se percebe uma jovem inconformada e com raiva: de seu ex (como em traitor, música que lhe rendeu comparações imediatas com a trajetória de Swift), quanto à indústria, em “brutal”, além da forma em que a juventude é tratada na mesma canção (“i’m so sick of seventeen/where’s my fucking teenage dream?), além da raiva por não conseguir se retirar de uma situação (1 step forward, 3 steps back). Isso é algo que combina muito bem com as faixas em que se observa uma inspiração no pop-punk (good 4 u), canção cujo som é bastante parecido com o de cantoras como Avril Lavigne e Hayley Williams, do Paramore, causando no ouvinte uma sensação de nostalgia, um dos motivos pelos quais a cantora conquistou um público tão alargado.

SOUR é o relato de um processo de crescimento pessoal e a trilha sonora perfeita para se lembrar do porquê de as músicas de amor existirem. Além disso, é talvez um bom motivo para se ter um olhar diferente sobre o drama da adolescência. Não é como se morrer de amor fosse possível, mas ninguém escreve músicas de amor sobre aquilo que vem fácil.

Gueto Elegance – BADSISTA

Em Gueto Elegance, BADSISTA entrega um trabalho solo cheio de brisa, putaria e uma certa sensualidade no meio disso tudo. De início, há fortes descrições narrativas dos desejos alinhados com a suavidade cuidadosa das batidas sonoras, e, no decorrer das faixas, segura bem forte na transição, e vai finalizando com baladinhas recheadas de diálogos melosos das relações contemporâneas.

Troféu – Major RD

Major RD, El Lif Beatz, KIB7 e Baratapai reorganizam e redistribuem tradicionais sons “não sonoros” em Troféu, junto do eletrônico cortante do característico drill e trap. Entre as tranquilas primeira e últimas faixas do disco, carregadas pelo soul ou por um pianinho (destaque para o “bum, bum, te amo, te amo” compondo Luna) Major rima como se o mundo tivesse acabando, abusa de um agressivo e energético flow, e abre espaço para diferentes sons de sua jornada – um carro e uma moto em alta velocidade, um raio, trechos vocais de outras pessoas que interrompem o beat, um diálogo de Eu, a Patroa e as Crianças, todos com o intuito de reforçar algum trecho da letra, conceito do artista ou para formar o beat.

Entertainment, Death – Spirit of the Beehive

Entertainment, a primeira faixa de Entertainment, Death, prontamente apresenta a cacofonia e a profusão caótica de sons que caracteriza o álbum inteiro. Este é o quarto álbum de Spirit of the Beehive, grupo nativo da Pensilvânia, uma viagem de pesadelo marcada por dissonâncias e rupturas, com cada transição de faixa surgindo como uma fratura e expondo a costura do empreendimento. Assim como em projetos anteriores, como Pleasure Suck, a banda mescla rock psicodélico e alternativo com mudanças abruptas de ritmo e acordes. Entertainment, Death também introduz fragmentos de anúncios e elementos de noise rock dispostos de maneira febril, elementos que mostram a faceta sombria e maldita da cultura de massas e do entretenimento. Uma cultura em putrefação que é mostrada pelos seus restos, pelos seus pedaços esquecidos e pelos sons em reverb. Um projeto satírico entregue ao delírio e que tem a monstruosidade como a sua vocação.

Daddy’s Home – St. Vincent  

Olho de Vidro – Jadsa

Planet Her – Doja Cat

Carnage – Nick Cave e Warren Ellis

Sound Ancestors – Madlib

Quem participou

Escreveram e contribuiram com essa votação: Aline Veloso Luz, Cláudio Gabriel, Egberto Santana Nunes, Igor Nolasco, João Oliveira, Maicon Firmiano, Maria Helena de Pinho, Matheus Fiore, Nicholas Correa e Victoria de Castro. Arte por Pedro Bellini.

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