Me Chama Que Eu Vou

Me Chama Que Eu Vou

As não faces de um ídolo

Claudio Gabriel - 25 de setembro de 2020

As canções de Sidney Magal foram e são fundamentais para um entendimento sobre a cultura brasileira. Sua importância para o surgimento do charme dentro do país, criaram uma dança e pensamentos únicos para uma parte da população que sentia falta do início do rock por aqui, com Roberto Carlos. Apesar disso, devido as vestimentas e suas danças sensuais, foi taxado de muita coisa e relegado a um preconceito, até um certo ostracismo. Mas como entender essa figura, que passou por tanto, mas ainda sim se torna uma espécie de nome amado por tanta gente? É um pouco dessa busca que o documentário “Me chama que eu vou” tenta realizar.

Para fazer isso, são duas frentes: conversas diretamente feitas com Magal e imagens de arquivo. Materiais bem simples, até bastante comuns no meio documental, mas que precisam ser usados e montados de uma forma que busque algo. No entanto, a realização da diretora Joana Mariani parece estar mais atrás de apenas glorificar essa figura histórica, sem entender os porques dessa glorificação. Ao adentrar em temas polêmicos, sai rapidamente, assim como pela visão negativa que teve dentro da mídia de boa parte da sua vida. Não há nenhum elemento de confronto, algo que deveria ser fundamental quando se faz uma cinebiografia em documentário e ainda diretamente com o ser em questão.

Um dos exemplos mais chamativos fica quando ocorre o debate sobre sexualidade e a relação com fãs homens e mulheres. Esse elemento poderia ser fundamental para discutir propriamente com o artista sobre o lado bastante andrógeno da produção musical da época, em que Ney Matogrosso também fazia sucesso. Até que ponto aquilo poderia ser algo chamativo e/ou uma relação de gênero? Entretanto, esse momento é apenas uma vírgula dentro da narrrativa do longa. É apresentado tão rápido quanto sai da conversa, parecendo apenas mais um ponto no meio de vários.  E isso se torna ainda mais esquisito quando a direção retoma esse preconceito de Sidney Magal, porém, simplesmente esquecendo de uma discussão que havia aberto anteriormente.

Apesar disso, é preciso apreciar o olhar bastante amoroso que é demonstrado pela figura biografada. Joana, em diversos momentos, tenta trazer um caráter bastante sentimental do cantor, quase brincando com as ironias de sua personalidade quando era mais novo. Um desses instantes é quando vemos uma entrevista de Sidney falando que queria ser famoso, nunca buscou uma vida longe do estrelato. Quando voltamos ao presente, ele parece ter acostumado com a vida também pacata, de tranquilidade, sem tanta mídia para chegar em cima. Do mesmo jeito, outro exemplo é quando vemos o músico abordando sobre casamentos, como pensava em algo no futuro, bem longe daquela realidade de fama. Quando retomamos o contemporâneo, sua vida é de casado de forma completa.

O maior problema sobre “Me chama que eu vou” é buscar apenas uma exaltação de Magal. Ainda com o curto tempo – de apenas 1h10min -, falta elementos dramáticos dentro da narrativa para sustentar uma verdadeira biografia. Em busca apenas de falar bem dessa trajetória, como se a crítica fosse ideia para os outros, o documentário perde a oportunidade de criar camadas para diversos personagens ali presentes. Além do “protagonista”, sua esposa e o filho tornam-se figuras centrais para contextualizar quem ele é. Mas como podemos olhar para uma pessoa que está sendo colocada sobre debate falando apenas de seus gestos positivos? Assim, oportunidades são perdidas, e o filme soa ainda mais comum do que é.


Esse texto faz parte de nossa cobertura para o 48ª Festival de Cinema de Gramado. Para ir até a página principal de nossa cobertura, clique aqui.
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