Uma nova retomada para o audiovisual carioca

Uma nova retomada para o audiovisual carioca

Reunião que conta com presença do prefeito Eduardo Paes expõe os novos planos da RioFilme para o setor na cidade

Igor Nolasco - 18 de agosto de 2021

No que se refere a cinema brasileiro, a palavra “retomada” é utilizada majoritariamente para se referir ao período entre o meio da década de 1990 e o início dos anos 2000, no qual a produção cinematográfica do país voltou a adquirir consistência quantitativa após os anos de escassez causados pela extinção da Embrafilme pelo governo Collor. No entanto, em uma reunião com caráter de coletiva que ocorreu no Rio de Janeiro no dia 17 de agosto, o termo reiteradamente foi aplicado para um contexto relativo ao período atual.

No Palácio da Cidade, suntuosa construção no bairro de Botafogo, foi apresentado, para profissionais do setor e expoentes da imprensa, o plano de Retomada do Audiovisual Carioca da RioFilme. Descrito como “um ciclo de ações”, esse planejamento contou com apresentação do secretário de Governo e Integridade Marcelo Calero, do diretor-presidente da RioFilme Eduardo Figueira, e mesmo do prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, que já no recinto, à frente de todos, assinou um compromisso para por em prática o que estava sendo apresentado. Bem-humorado, o prefeito confessou que, em seu primeiro mandato no cargo, havia prometido especial atenção ao audiovisual da cidade, sendo essa, no entanto, uma promessa de campanha não cumprida. Agora, já em 2021, Paes afirma que buscará compensar pelo tempo perdido, através de editais valendo já para este ano.

Com um investimento de 20 milhões para 2021, “beneficiando dezenas de projetos, eventos, mostras e festivais”, o programa destina R$ 16.250.000,00 para editais (de filmes em longa e em curta-metragem) e R$ 3.750.000,00 para festivais e eventos. Esses valores fazem parte do que Paes se referiu como sendo um novo entrosamento entre a RioFilme e a prefeitura da cidade, que a partir de agora deverão trabalhar de forma muito mais estreita. A parceria com a FIRJAN também foi destacada em meio às falas dos presentes, sempre objetivando fortalecer a RioFilme.

Nos tópicos remetentes à infraestrutura para o audiovisual, foram colocadas a reativação do Polo Cine Vídeo, a formação de um grupo de trabalho para criação da sigla Distrito Criativo Carioca (DCC) e a reabertura de uma sala de exibição no Complexo do Alemão, o CineCarioca Nova Brasília – portanto, vê-se que a apresentação de uma RioFilme extremamente ativa visa movimentar muito mais do que a produção audiovisual, ainda que este seja um de seus principais propósitos nessa nova fase. Também foi anunciada a criação de um conselho municipal da RioFilme, de caráter consultivo, “que garanta a efetividade e continuidade das ações”, composto parcialmente por profissionais do setor de “notória atuação” e complementado por representantes da Prefeitura. O objetivo desse conselho seria “propor políticas públicas e diretrizes para a RioFilme, abrindo a empresa para maior participação no mercado”.

Partindo do tópico que propõe o fortalecimento da Rio Film Comission, “com foco na agilidade, eficiência e atração de filmagens para o Rio”, Paes atestou que esse renascimento da RioFilme já em 2021 tem como proposta maior tornar o Rio de Janeiro novamente o polo audiovisual mais forte do Brasil. Se pelo menos desde a década de 1990 esse protagonismo é disputado com São Paulo, sobretudo no ramo da publicidade, Paes alega que nos últimos quatro anos (sob os quais o Rio esteve sob o comando da Prefeitura do bispo Marcelo Crivella) o setor audiovisual enfraqueceu-se consideravelmente na cidade, perdendo de forma visível o protagonismo para a capital paulista. Em uma apresentação de slides completamente ilustrada com imagens de filmes produzidos no Rio de Janeiro, sob a efígie da RioFilme, durante os anos da retomada do cinema brasileiro, Paes promove agora uma nova retomada do cinema e do audiovisual carioca. Adquirindo tom mais sério após eventuais brincadeiras, ele alega que o Rio sai de um período de descaso com o setor e franca censura a manifestações artísticas, chegando a relembrar o episódio relativo à última Bienal do Livro, na qual a Prefeitura de Crivella apreendeu revistas em quadrinhos que apresentavam um beijo entre dois homens. Político de centro-direita, o prefeito carioca que agora ocupa seu terceiro mandato marcou, no Palácio da Cidade, uma posição de aceno claro a um discurso mais progressista.

Ao fim da reunião, revelou-se também a intenção de, através de uma reestruturação da empresa, criar uma nova marca para a RioFilme, doravante intitulada RioFilme+, descrita como “mais aberta e mais abrangente”. Em um cronograma que estabelece as datas para o fomento de projetos, foi colocado que o período de consulta pública estaria imediatamente aberto, com informações mais completas disponíveis no site da RioFilme. Se algo ficou das falas no Palácio, foi que os envolvidos nessa pretensa retomada do audiovisual carioca o fazem, acima de tudo, com uma mistura de planejamento e urgência. A promessa que ficou é a de que os valores dos editais oferecidos tenderão apenas a crescer nos próximos anos.

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