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Censura ideológica não é novidade: o Brasil tem um compromisso histórico com o atraso

Censura ideológica não é novidade: o Brasil tem um compromisso histórico com o atraso

Gustavo Pereira - 17 de setembro de 2016

Não é de causar espanto a revelação de Wagner Moura de que seu projeto para a cinebiografia de Carlos Marighella está sofrendo boicote. Para quem já assistiu a Trumbo, a sensação é que as grandes novidades repressivas chegam ao sul da América no lombo do jegue, pois estamos falando de um modus operandi com mais de 50 anos. Lembremos que Aquarius sofreu recentemente o boicote mais covarde da era pós-ditadura no Brasil, sendo proibido de concorrer a uma vaga no Oscar porque seu elenco manifestou-se contrário ao processo de impeachment no tapete vermelho de Cannes.

Como eu disse no título, isso não é novidade: Dalton Trumbo não pôde receber o Oscar de Melhor Roteiro em The Brave One porque figurava naquele momento na famosa Lista Negra, compilado de profissionais do Cinema norte-americano simpatizantes da ideologia comunista e que, por isso, eram proibidos de trabalhar.

Sempre levarei em consideração que o Cinema é uma arte de mercado e, por isso, investir em uma obra deve estar atrelado ao potencial de recuperação do dinheiro que se coloca nela. Contudo, se negar a produzir o filme “de um terrorista”, como relata Moura, não tem nada a ver com potencial de faturamento (lembremos que Até que a Sorte nos Separe 3 foi a 8ª maior bilheteria do primeiro trimestre, uma prova de que QUALQUER COISA pode ter um bom faturamento em bilheteria com a abordagem adequada), mas com desconhecimento da História do Brasil.

Mais dramático do que isso, é interesse proativo em manter a população nas trevas da ignorância sobre uma figura política relevante, independente da ideologia política que cada um adote.

É o equivalente a negar que Médici seja uma figura política importantíssima para entender a Ditadura. Podemos gostar ou não das pessoas, mas negar a relevância de cada uma é desonesto.

Quando alguém tenta contar a História por outro viés (o filme será embasado no livro de Mário Magalhães) e isso lhe é negado não por um, mas por diversos potenciais financiadores, configura-se um boicote.

Em um mundo ideal, as pessoas poderiam ir aos cinemas, assistir ao filme de Wagner Moura, pesquisar mais a fundo sobre a figura de Marighella e a Ditadura no Brasil, levantar e discutir questões com professores e formar uma opinião. O Cinema seria um fomentador cultural. Mas aqui boicotam projetos, revisam a História e silenciam professores.

A Lista Negra quase privou o mundo de Spartacus e Exodus, obras-primas roteirizadas por Trumbo. O que perderemos por aqui?

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