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New Life S.A.

New Life S.A.

Wallace Andrioli - 18 de setembro de 2018

Os três núcleos dramáticos que compõem “New Life S.A.”, de André Carvalheira, pretendem conduzir o filme brasiliense para uma crítica estrutural da sociedade brasileira. No alvo estão o empresariado (e o discurso empreendedor vendido por ele à classe média como dogma), o judiciário e os políticos. A proposta do diretor encontra ecos na realidade, em tempos de crise econômica, aumento do desemprego e acirramento da violência discursiva e prática dos de cima contra os de baixo. No entanto, Carvalheira se enrola nos seus próprios excessos, na vontade de parecer dotado de uma visão altamente original dos problemas do país, e acaba simplesmente rodeando alguns lugares comuns do cinema político.

Antes disso, no entanto, cada um dos núcleos carece de qualidade dramatúrgica. O principal, protagonizado pelo arquiteto Augusto (Renan Rovida), parece contaminado pela apatia do personagem. O dos operários é um pouco melhor, mas mesmo assim, eles não têm papel muito relevante na história a não ser servir de escada para a exposição do que há de mais escroto nas elites brasileiras. Por fim, o da falsa família, formada por atores para vender determinado produto, não faz muito sentido na diegese de “New Life S.A.”. São personagens que de fato sobram no filme.

Talvez o que realmente funcione sejam as breves inserções com as filmagens da campanha de um candidato ao Senado, Valter (André Deca). A crítica pensada para esses momentos é também óbvia, mas ao menos o personagem é divertido e Deca encontra o tom de humor exato para ele. A relação de Valter com os espaços da cidade pelos quais trafega traz à mente o recente “O Prefeito” (2015), de Bruno Safadi, ainda que o formato de suas entradas em cena remeta à utilização de vinhetas, jornalísticas ou propagandísticas, por Paul Verhoeven em duas de suas melhores ficções-científicas: “RoboCop – O Policial do Futuro” (1987) e “Tropas Estelares” (1997).

De resto, no entanto, “New Life S.A.” patina na obviedade de seus intentos. Aborda temas politicamente candentes já presentes em outros filmes brasileiros recentes – a cena final, por exemplo, se assemelha à equivalente de “Trabalhar Cansa” (2011), de Marco Dutra e Juliana Rojas, enquanto a atmosfera de distopia periférica lembra o cinema do também brasiliense Adirley Queirós –, sem conseguir ir além de onde eles pararam. E, no afã de atingir duramente todas as instâncias de poder do país, cai num niilismo bobo, típico de filmes que se atribuem demasiada autoimportância, produzindo no caminho algumas cenas bastante ruins: por exemplo, todas envolvendo a esposa do protagonista e, principalmente, a de um encontro subterrâneo entre poderosos.


Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Plano Aberto para o 51º Festival de Brasília. Para ler outros textos de nossa cobertura, clique aqui.

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