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Logan Lucky – Roubo em Família

Logan Lucky – Roubo em Família

Matheus Fiore - 13 de outubro de 2017

Logan Lucky marca o retorno de Steven Soderbergh ao cinema. Após um curto hiato, – no qual passou a se ocupar com projetos televisivos , o americano está de volta trazendo mais um filme de assalto recheado de comédia e reviravoltas tão divertidas quanto rocambolescas e inverossímeis. Dessa vez, o golpe é “em família’: os irmãos Jimmy (Channing Tatum), Clyde (Adam Driver) e Mellie (Riley Keough) se unem a outra família liderada por Joe Bang (Daniel Craig) para realizar um grande roubo a um cofre localizado no subsolo de um famoso circuito de corridas Nascar.

Como era de se esperar em uma obra de Soderbergh, o elenco é o ponto forte. Todos os personagens do núcleo “principal” calcam suas interpretações em visões caricatas do típico americano do interior, principalmente pelo puxado sotaque. O menos caricato é justamente Jimmy, que, para criar empatia no público, é um pouco mais sério que os demais. No papel protagonista, Tatum escolhe curvar seus ombros e coluna, criando um personagem que, apesar do porte físico notável, mostra-se inseguro e fragilizado.

O roteiro acompanha tal construção com competência. Com exceção de Jimmy, todos os personagens são extremamente (e deliberadamente) estúpidos, o que faz com que eles se coloquem em situações patéticas a todo instante, fazendo com que suas presepadas sejam o humorístico de Logan Lucky. Há, porém, um certo drama, presente na relação entre Jimmy e sua filha e que não surge de maneira banal – pelo contrário: está lá, literalmente, desde o primeiro frame da projeção. Por trás do plano mirabolante, há um pai que anseia por prover  sua família, elemento que funciona para dar mais camadas ao filme.

Tanto pela agressividade da câmera quanto pela ágil montagem, Logan Lucky é uma obra vivaz em seus momentos heist movie. A constante variação entre todos os núcleos que proporcionam a execução do plano tornam toda a “missão” dos Logan complexa. Infelizmente, mesmo que o roteiro funcione no desenvolvimento dos personagens, ele não é tão eficiente na elaboração do golpe, e a execução do plano de Jimmy, seus irmãos e colegas depende demasiadamente de coincidências para funcionar, o que acaba tirando a força do grande assalto, que deveria ser o carro-chefe do longa.

Apesar de funcionar como uma comédia de assalto até o fim do segundo ato, Logan Lucky – Roubo em Família perde totalmente o rumo ao apresentar uma resolução extremamente simplória para um conflito importante, o que deixa claro que, eventualmente, haverá uma explicação adicional disfarçada de plot twist. Como resultado, o assalto é prejudicado por ter uma conclusão confusa e desinteressante, ao passo que a prolongação da conclusão estica-se tanto que mais parece um filme dentro do clímax.

É bom ver Soderbergh de volta, mas o cineasta demonstra estar enferrujado (ou pelo menos desatualizado). Todos os bons elementos de Logan Lucky – Roubo em Família só funcionam até a página dois: as atuações são extremamente engraçadas, mas o caricato, quando elevado ao extremo, impede que o clímax tenha algum impacto dramático; o plano rocambolesco do assalto deixa de fazer sentido e torna-se apenas enrolação para uma nada surpreendente explicação final. O saldo final é até positivo, mas esquecível e aquém das demais obras do cineasta americano.

Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Plano Aberto do Festival do Rio de 2017.

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