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Aliados

Aliados

Gustavo Pereira - 4 de fevereiro de 2017

Qualquer um que já tenha visto 5 minutos de uma competição de ginástica artística na vida sabe que a nota obtida é proporcional à dificuldade do exercício. O mesmo vale para filmes. Aliados, novo longa do americano Robert Zemeckis (o mesmo da trilogia De Volta para o Futuro e de sucessos tanto populares quanto de crítica Uma Cilada para Roger Rabbit, Forrest Gump, Contato, e O Náufrago, além de um dos meus filmes favoritos da vida, Gigantes de Aço), incorre neste erro: é um filme fácil. Não erra, mas também não é marcante. Meia hora após a exibição, provavelmente você já terá esquecido de alguns detalhes da trama.

Durante a Segunda Guerra Mundial (mais especificamente, o filme começa no Marrocos francês de 1942), o oficial de Inteligência da Força Aérea Canadense Max Vatan (Brad Pitt) tem a incumbência de matar o embaixador alemão. Para isso, terá a ajuda da espiã da Resistência Francesa Marianne Beausejour (Marion Cotillard), que já estava no país preparando uma mentira que justificasse a chegada de Vatan.

Você já viu filmes ambientados na Segunda Guerra. Também já viu filmes de espiões. Aliados é um pout-pourri de clichês sobre o período. A missão no Marrocos consome 40% do filme, aproximadamente, e serve para que Vatan e Beausejour se apaixonem e voltem juntos para Londres, onde se casam e têm uma filha, Anna (“interpretada” pelas gêmeas estreantes Pearl e Luna Rumbelow). A partir daí, dá pra dizer que o filme realmente começa.

Porque o ponto-chave da obra de Zemeckis é criar um suspense quanto ao que é ou não real. Fatos se sobrepõem a emoções e experiências vividas? Isso aqui não é um site de sinopses, então você terá que ver o filme se deseja descobrir qual é o seu grande mistério, mas adianto que é um tema tão explorado que todas as possíveis combinações para a resolução já foram utilizadas algumas vezes. Logo, não há nenhuma surpresa quando a verdade se revela.

Em um raro momento elaborado, este diálogo coloca Vatan emoldurado pelo céu límpido, enquanto Beausejour está cercada pela areia estéril do deserto

Chega a dar desgosto de ver um diretor com tanto conhecimento técnico e habilidade para contar histórias trabalhando de forma tão preguiçosa. Pegue qualquer filme que eu citei no primeiro parágrafo: seja um garoto tentando garantir que seus pais de fato fiquem juntos no baile da escola, um homem dado como morto tentando sobreviver numa ilha deserta, um pai se conectando com o filho ou mesmo um coelho em desenho animado tentando provar sua inocência, Zemeckis faz com que nos importemos com os personagens. Aqui, por mais que Pitt e Cotillard emprestem seus carismas pessoais a Vatan e Beausejour, não conseguimos realmente nos conectar com o drama que os cerca caso a dúvida levantada sobre sua relação se mostre verdadeira. Em algum momento, queremos apenas que o filme acabe logo.

Uma das gêmeas Rumbelow dando vida a Anna: melhores atrizes do filme

Falo isso porque um diretor que já filmou planos memoráveis como Jena Malone correndo de frente para um espelho em Contato (deixo o link abaixo) e trabalhou com compositores geniais como Alan Silvestri (que aqui também está irreconhecível) parece uma sombra de si: uma tomada em um espelho, uma trilha no piloto automático guiando emoções de forma barata… parece que Aliados é resultado de alguma obrigação contratual você-nos-deve-um-filme-faça-ou-te-processamos. As gêmeas Rumbelow acabam sendo as únicas que provocam alguma empatia pela pequena Anna. E estou em dúvida se alcançam o objetivo porque a personagem é um bebê fofo. Filme esquecível.

Uma menção honrosa: o casal Bridget (Lizy Caplan) e Louise (Charlotte Hope) é tratado com tanta naturalidade que demonstra que pelo menos Hollywood já entendeu que ser gay não é nenhuma aberração.

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